29.8.06

Acesso às Artes (& Negócios)

Tal como, certamente, a alguns dos leitores deste blogue, os montantes cobrados para o acesso a espectáculos musicais (vulgo concertos) começaram a merecer alguma da minha atenção.
Após um período em que me refugiei na ilusão do “efeito inflação”, ou mesmo no “síndrome de recém-assalariado” (visão marxista em que cada bem ou serviço se torna precioso ao ser transaccionado por “horas/escritório”), e baseado em algumas comparações cientificamente mais coerentes, confirmei a escalada desproporcional até aos valores que, hoje em dia, temos que desembolsar.
Numa entrevista ao responsável máximo pela área de Technology, Media & Telecommunications (!) da Deloitte, publicada no suplemento DiaD do jornal Público de 31/07/2006 (creio ser esta a data correcta), encontrei uma explicação bem argumentada: sucede que, por proliferação generalizada dos softwares de partilha gratuita (pirata, por sinal) de música e outro tipo de ficheiros, as fontes de receita dos artistas tiveram que ser reorientadas (não estou aqui a levantar a questão dos montantes; no entanto sabemos que, sociologicamente, o ser humano é um animal de hábitos). Por outro lado, o consumidor médio tem visto decrescer os montantes dispendidos na aquisição de álbuns, pelo que estará disposto a aplicar montantes mais elevados em ingressos para concertos. O efeito humano da satisfação associada a sacrifício também aqui se aplica: o ânimo (talvez incentivo) de escutar um CD comprado é, pelo menos subconscientemente, superior ao de escutar o último download efectuado.

Faça-se a analogia deste último efeito ao concerto, associado à maior disponibilidade financeira do consumidor para esta arte, por sua vez conectado à necessidade de alimentar a excentricidade dos artistas… et voilà!

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