30.3.06

Num futuro, mais ou menos, próximo

O que é que seria deste governo se não existisse o verbo ir, conjugado das mais variadas formas…

Eu vou
Tu vais
Ele vai
Nós vamos
Vós ides
Eles vão

Para acompanhar os mais variados verbos…

Investir, extinguir, afrontar, legislar, modificar, melhorar, reformar, corrigir, fomentar, discutir, decidir…?

Bem, restava-lhes sempre o velho e fiável anunciar...

29.3.06

Mais um título

A boa caminhada do Benfica na Liga dos Campeões tem sido acompanhada em tom de grandiosa epopeia por parte dos nossos “jornalistas”, que não hesitam em enfatizar as prodigiosas exibições da equipa da Luz, explorando um sem número de especiais e rescaldos, que poucas linhas e horas de emissão deixam para os outros assuntos, sem a mesma importância e grandiosidade. São as tais finais, muito bem retratadas por Mário Almeida, em A Fonte, e que já valeram ao Benfica dois títulos de campeão europeu só nesta época.
Continuando esse magnífico trabalho, eis um título da comunicação social de hoje, sobre o jogo Barcelona – Benfica, referente à 2ª mão:

Liga dos Campeões: «O Barcelona terá de atacar...», suspira Koeman

Imagino como teria sido o jogo do Estádio da Luz, se o Barcelona não tivesse vindo exclusivamente para defender…

Procura-se língua portuguesa

Estava a procurar no Google uma convenção colectiva de trabalho para a construção civil. Para o efeito, atrevi-me a escrever a seguinte expressão: convenção colectiva construção civil.

Responde-me o Google do alto da sua arrogância literária:

Será que quis dizer: convenção coletiva construção civil

28.3.06

As lapas

Os sindicatos são uma das maiores forças de bloqueio que existem neste país. Não existe uma única medida que não seja vivamente contestada e alvo do mais indignado repúdio por parte dos dirigentes sindicais.
O melhor exemplo disso foi o Código do Trabalho, do governo de Durão Barroso, que justificou todo o tipo de histerismo. No entanto, cada vez mais se constata que se tratou de uma mera compilação de leis, sem grande inovação ou arrojo, continuando a nossa lei laboral a ser totalmente inflexível, dificultando o mercado e a entrada de aqueles que procuram o primeiro emprego.
Continuando nessa senda, ontem, os dirigentes dos sindicatos da função pública mostraram-se favoráveis às medidas de desburocratização apresentadas pelo governo, mas, apenas, desde que estas não implicassem a extinção de qualquer posto de trabalho.
Querem estes senhores dizer que todos nós somos obrigados a sustentar milhares de postos de trabalho, mesmo que estes se revelem ineficientes ou completamente inúteis.
É com este tipo de afirmações que estas pessoas querem ser levadas a sério e ser parte activa nas negociações e nas novas medidas que forem apresentadas?

25.3.06

A ler

"É preciso topete", por Helena Matos, no Blasfémias.

24.3.06

Não foi penalti

Leiam n'O Jogo.

Envelhecimento precoce

Independentemente de todas as fragilidades que o chamado CPE (Contrato de Primeiro Emprego) francês possa ter, mas que não vislumbro com a facilidade e evidência que muitos apregoam, parece-me totalmente utópico que jovens até aos 26 anos pretendam segurança e estabilidade total no emprego.
A seguir à luta pelos direitos fundamentais, parece-me que a nossa sociedade reivindica o simples direito à acomodação. Se não é nessa altura da vida que estamos disponíveis para experimentar e mudar, quando é?

23.3.06

Madeira: para quando o 25 de Abril?

A decisão, revelada ontem pelo PSD Madeira, de acabar com as comemorações oficiais do 25 de Abril na Assembleia Regional este ano é mais um episódio grotesco que envergonha o País. O argumento utilizado é simplesmente a "inoportunidade" do acto oficial, que tem sido aproveitado, segundo o PSD local, pelos partidos da oposição para criticarem o Governo regional. Esta atitude vem confirmar que, de facto, os madeirenses não têm motivos para comemorar o 25 de Abril...

Simplificar o que é simples

O governo prepara-se para lançar uma série de medidas com vista a simplificar a vida das pessoas, desburocratizando-a.
Uma dessas medidas é a não obrigatoriedade de matrícula de um aluno que se mantenha na mesma escola. Era algo que não se conseguia entender. Porque é que para se manter uma situação quase similar à do ano anterior, tinha que se preencher e entregar um sem número de papéis e autorizações, enfrentando filas e horários apertados, como se a nossa vida fosse mudar totalmente.
O governo seguiu, e bem, o exemplo de algumas universidades em que esse procedimento já há algum tempo tinha sido simplificado.

22.3.06

Roubo de igreja

"(...)É praticamente impossível acreditar que o árbitro-assistente que, no Rio Ave-Benfica, anulou o golo de Evandro, por “bola fora” no momento em que Danielson cruzou para a área, o tenha feito por ter visto a dita bola para além da linha de fundo. Por duas (fundamentais) razões: a primeira, porque do lugar em que estava, não podia ter visto tal coisa. Em segundo lugar, porque 99,9 por cento dos relatos desse lance, e de opiniões sobre ele, dão a bola como não tendo ultrapassado a linha. Donde, a inevitável pergunta: por que terá ele decidido assim? Devendo eu acrescentar que a resposta que para mim dou a essa pergunta não é nada abonatória no que diz respeito à seriedade do senhor, como é óbvio. Nem poderia sê-lo.

É também praticamente impossível acreditar que ninguém da equipa de arbitragem tenha visto que o golo do Benfica foi marcado em falta, por Mantorras. Pelo que também aqui nenhuma conclusão pode ser minimamente abonatória para a seriedade de que fez vista grosa a tal lance, transformando assim uma mais do que provável derrota numa vitória do Benfica. Com uma nota suplementar: desta vez, José Veiga meteu, é claro, a viola no saco. É de homem!(...)"

António Tavares-Teles n' O Jogo de hoje.

Brincar aos tribunais

O caso de Fátima Felgueiras tem sido uma caricatura do nosso país e da nossa justiça. Tem-nos demonstrado, do modo mais duro, a nossa incapacidade para fazermos respeitar as nossas instituições.
Para continuarmos nessa senda, Fátima Felgueiras arranjou agora o expediente mais primário e, diria mesmo, português, para não entregar o passaporte brasileiro, tal como foi imposto pelo juiz de instrução. Esqueceu-se dele no Brasil…

21.3.06

Cartaz SBSR

O cartaz do Festival de Música Super Bock Super Rock já está disponível em:

http://www.superbock.pt/sbsr_2006/

Um cartaz que promete marcar a diferença!

19.3.06

Demência ao volante...

Os mais recentes casos de condutores em contra-mão nas auto-estradas vêm, mais uma vez, levantar a questão da avaliação das capacidades de condução nos indivíduos idosos. De facto, o perfil típico do condutor que comete este tipo de infracção é ter idade avançada, apresentar défices cognitivos e tomar psicofármacos. Infelizmente, a avaliação das capacidades dos condutores idosos para renovação da carta de condução não passa de um exame médico grosseiro, que detecta apenas alterações físicas graves. Faz-se um rastreio sumário da visão, da audição e da coordenação. No entanto, as funções nervosas superiores, como a memória, linguagem, atenção e capacidade visuo-espacial não são avaliadas de forma sistemática, o que poderia ser feito facilmente com recurso a instrumentos como o Mini Mental State Examination, cuja aplicação não demora mais de 5 minutos. É de esperar que, com o aumento exponencial da demência a partir dos 65 anos, e com a falta de sensibilidade das avaliações médicas para renovação de carta de condução, que muitos condutores continuem a conduzir até atingirem um estado de deterioração cognitiva moderada a grave, tal como nos casos recentemente descritos na comunicação social. É pena que a situação actual seja considerada quase inevitável e se atribua a responsabilidade apenas aos próprios condutores que, exceptuando casos excepcionais, não têm discernimento para compreender o que se passou.

15.3.06

Tudo o que mexe

Admira-me como é que nas normas de incidência do Imposto de Selo não consta a respiração… mas a verdade é que também não está lá a exclusão ou isenção expressa…

13.3.06

Nível de vida no Brasil sobe

No Público: “Fátima Felgueiras diz que não pode pagar multa de 12.500 euros”.

Deve ter gasto tudo nas plásticas e em água de coco…

12.3.06

... nos outros é refresco

Clara Ferreira Alves é participante, juntamente com mais quatro pessoas, num dos piores e infames programas de televisão portuguesa, Eixo do Mal, na SIC-N. Nesse programa, os intervenientes, do alto da sua (presunçosa) sapiência e (imperceptível) superioridade intelectual, limitam-se a dizer mal de tudo e todos, tentando tranformar-se numa (reles) cópia dos bons tempos da Noite da Má Língua.
Apesar disso, Clara Ferreira Alves decidiu processar Vasco Pulido Valente, por causa de uma caracterização mais violenta (habitual no autor) sobre as suas capacidades e actividades.
Além de dificilmente encontrar no texto motivo para qualquer sanção penal, penso que alguém devia explicar à senhora o significado da expressão "venire contra factum proprium".

Pipocas

É uma pena que as pipocas e o cinema andem, inevitavelmente, de mãos dadas.
Ontem, tive de me esforçar para ouvir as palavras de Philip Seymour Hoffman, em Capote, por causa de duas senhoras que lutavam furiosamente com um pacote de pipocas.
Além de percorrerem afincadamente o recipiente, agitando freneticamente o seu conteúdo cada vez que lá enfiavam a mão, como se esperassem encontrar algo verdadeiramente valioso esondido lá no fundo, ainda me faziam o favor de tornar perfeitamente perceptível todo o percurso da pipoca, desde que era sonoramente mastigada até à deglutição final.
Felizmente não era dos pacotes grandes, mas estava longe de ser dos pequenos...

10.3.06

Lastimável

Num acto de grande sentido democrático, os deputados do BE recusaram-se, no parlamento, a levantar e aplaudir o novo Presidente da República, acabado de tomar posse naquele hemiciclo e eleito por sufrágio universal por todos os portugueses.
De igual modo, os deputados do PCP limitaram-se a levantar (a muito custo, certamente), mas não esboçaram qualquer aplauso. Deputados cujo partido não hesitou em patrocinar e organizar um enorme comício festa em honra de Fidel Castro, quando este veio ao Porto, aquando da realização de uma cimeira ibero-americana.
Já nem se fala do civismo e da educação que, apesar de tudo, sempre se espera dos representantes dos nossos órgãos de soberania…      

Civismo

É recorrente vermos uma total ausência de civismos nas nossas estradas, principalmente, nas grandes cidades. Quando necessitamos de entrar numa via com grande movimento e precisamos de um pouco de compreensão daqueles que nos podem facilitar essa penetração, deparamos com uma falta de simpatia e de civismo por parte dos condutores. Por razões culturais, somos um povo pouco civilizado e muito vezes arrogante, procurando sempre a competitividade e a rivalidade entre cada um. O português nunca pode ficar atrás do outro e geralmente é motivo de chacota, caso isso aconteça. Quem de nós já não presenciou um “chega para lá”, uma entrada mais agressiva na via por nós ocupada, uma ultrapassagem muito pouco facilitada pelo condutor ultrapassado, não parar na passadeira… Muitos mais casos poderia ainda enumerar, pondo o condutor, na maior parte das vezes, a sua vida e a dos outros em risco. Reconheço que, por vezes, tenho agido desta forma e assumo cota parte destes casos, no entanto, é tendo a noção que muitas vezes estamos errados que nos podemos corrigir. Tentemos ser mais simpáticos, cordiais e civilizados nas nossas estradas perante os nossos compatriotas, só assim poderemos mudar estes hábitos e estas atitudes que proliferam cada vez mais. Até por causa da imagem que transmitimos aos nossos descendestes. As mudanças começam sempre por nós!          

9.3.06

Algum descanso

Por uma questão de higiene jornalística, por cada vitória do Benfica deveria haver, no dia de seguinte, uma tomada de posse...

Posturas diferentes

Ainda em relação às diferenças de tratamento da comunicação social sobre as medidas dos Governos PSD e PS, o anúncio da subida das taxas moderadoras na saúde é outro exemplo significativo. Quando Santana Lopes revelou essa intenção houve uma reacção generalizada de repúdio e até o próprio Presidente da República veio afirmar a sua preocupação com tal medida. Curiosamente, o anúncio feito esta semana pelo Ministro da Saúde de um aumento das taxas moderadoras passou quase despercebido e, embora tenha suscitado natural desagrado na população, não se registaram, desta vez, manifestações inflamadas de líderes de outros partidos ou de associações de doentes. Esta enorme diferença na receptividade da medida poderá ser explicada por vários factores. Por exemplo, o facto de existir, ao tempo de Santana Lopes, uma animosidade crescente em relação à sua figura que alastravam, em consequência, às medidas do seu Governo, ainda que adequadas. Outra razão será a percepção que a população portuguesa finalmente adquiriu sobre a situação económica do País e que, apesar dos esforços de Manuela Ferrreira Leite, não havia interiorizado nos tempos do PSD, levando-a a aceitar agora com resignação as medidas impopulares que antes provocavam reacções de cólera. Mas penso que outra explicação tem que ver com a atitude da oposição. Quando no passado o PS criticava sistematicamente as medidas impopulares do Governo PSD estava a boicotar a tentativa de comunicação entre Governo e população e a impedir que esta assimilasse a necessidade de alterar radicalmente o funcionamento do Estado. Agora no Governo, o PS faz aquilo que criticava no passado mas desta vez o PSD, e bem, não usa o seu estatuto de maior partido da oposição para fazer manobras de propaganda política demagógica. É esta atitude que permite ao PS prosseguir as medidas impopulares sem sofrer maiores danos, a bem do país e, talvez, a mal do PSD...

8.3.06

Futebol falado

A Sport TV é um canal pago pelos espectadores, dedicado unicamente ao desporto e cuja grande fatia de emissão é composta pelo futebol. Com base nestas premissas, seria de esperar que estivessem nos seus quadros os melhores profissionais da área, nomeadamente, os melhores comentadores de futebol.
Nada mais errado. Os comentadores da Sport TV são, basicamente, ex-jogadores ou treinadores de futebol no desemprego. Por via disso, gostam de nos mostrar que tratam por “tu” grande parte das figuras futebolísticas do nosso país, o que lhes dá o raro privilégio e honra de as chamar pelo primeiro nome durante as transmissões dos jogos. “O Nuno não merecia… O Jaime é um homem emotivo… O João tem destas coisas… O Rui não recebe lições de ninguém… ”, entre outras pérolas.
Fora isso, nada de novo têm para nos dizer. Durante os jogos estão quase sempre calados, só soltando algum som após insistência do jornalista de serviço. Os seus discursos são redondos, desprovidos de qualquer acutilância e arrojo, onde abundam as frases feitas e os lugares comuns. O português falado é débil. Por serem pessoas daquele meio, que procuram aí empregos ou lugares nos inúmeros órgãos de gestão ou nas galas e jogos comemorativos, evitam sempre a crítica directa, ou mais severa, enveredando sempre por generalidades.
A análise táctica e de aspectos menos acessíveis aos espectadores comuns não vai muito além do tradicional 4-3-3, 4-4-2 ou 5-3-2, “com jogadores bem abertos nas alas”, “um ou dois à frente da defesa”, algum “a descair para os flancos”, “pressionando a equipa como um bloco”. O “futebol acaba sempre por ser isto mesmo” e “o jogo tem sempre duas partes distintas”. O treinador é sempre elogiado quando ganha e (acanhadamente) criticado quando perde, mesmo quando a táctica é a mesma.
Por coincidência, ou talvez não, o único comentador que conseguiu fugir a todos estes ditames foi José Mourinho, no curto espaço de tempo em que esteve sem treinar.
Num aspecto a Sport TV teve algum mérito, pôs-me a ver Gabriel Alves com outros olhos…

6.3.06

Fatalidade

Sem dúvida que um dos dramas do ser humano é a sexta-feira estar sempre tão distante da segunda-feira.

3.3.06

Diferenças

Quem assistia aos debates parlamentares protagonizados pela actual liderança do PS quando estava na oposição aos governos de Durão Barroso e Santana Lopes, dificilmente acreditaria que eram as mesmas pessoas. Muitas das medidas agora vigorosamente defendidas são as mesmas que num passado recente eram atacadas e combatidas até à exaustão.
Como resultado, temos os dois maiores partidos portugueses cada vez mais parecidos, trocando apenas de posições, consoante estejam no governo ou na oposição, com evidentes resultados na sua credibilidade política.
No entanto, o que continua a ser diferente é o tratamento que alguma comunicação social e os sindicatos aplicam a essas medidas, que varia consoante o partido que as propõe. E temos vários exemplos flagrantes disso.
O que não se diria se fosse um governo do PSD a preparar-se para mudar a lei do segredo de justiça nos termos em que a actual maioria se propõe fazer? O que não se escreveria se fosse Manuela Ferreira Leite a limitar abusivamente o legítimo direito de reclamação dos contribuintes como se prepara para fazer o actual Ministro das Finanças? Onde estão os argumentos anti-economicistas, sempre tão prontos a sair, contra as (boas) medidas da ministra da Educação? Que gritos de indignação não se ouviriam se um ministro dos Negócios Estrangeiros dos anteriores governos dissesse as barbaridades que Freitas do Amaral tem dito acerca da liberdade de expressão, da sua “licenciosidade” e da violência de alguns povos árabes? Aliás, nem é preciso ir tão longe. Bastava que o mesmo Freitas fizesse parte de um governo de cor mais laranja e azulada.
A verdade é que este governo, além da já esperada bonomia de muitos sindicatos e associações, tem contado com uma comunicação social extremamente favorável, que lhe dá todo o espaço de manobra de que necessita e que o ajuda a construir almofadas que absorvem qualquer assunto mais desconfortável.

2.3.06

Advogados e Juízes

Um dos mais graves problemas da Justiça está na qualidade dos seus agentes. A verdade é que muitos advogados e juízes não têm a qualidade ou a vocação para desempenhar as funções que exercem, constituindo verdadeiras pedras que encravam e travam toda a máquina. E, também aqui, o Estado está longe de estar isento de responsabilidades.
Com efeito, ao criar e ao deixar criar cursos de Direito em catadupa, o Estado transformou certas áreas da Justiça numa selva e outras numa verdadeira tábua de salvação a que se tenta chegar a qualquer preço, sem que se esteja minimamente preparado ou vocacionado para isso.
O número excessivo de advogados que actualmente existe criou uma situação de concorrência feroz, levando a que muitos dos que tentam enveredar pela profissão (que, apesar de tudo, ainda é a de mais fácil acesso) não tenham trabalho e não se consigam estabelecer. Assim, aqueles que não têm um currículo “à prova de bala”, ou têm a felicidade de ser influentes (por si ou por interposta pessoa) ou de ter alguém na família que já exerça a profissão, só à custa de muitas batalhas e expedientes (por vezes subterrâneos) é que conseguem singrar na advocacia. Esse tipo de expedientes traduzem-se quase sempre em atropelos às mais elementares regras deontológicas, que acabam por transformar certas áreas da profissão numa selva, em que apenas resistem os que não olham a meios para atingir os seus fins.
Para os que não têm essa felicidade ou “espírito” resta sempre a difícil hipótese de seguir a carreira da magistratura. E isso traz-nos outro problema.
O que se verifica é que muitos dos que se candidatam e, depois, saem do Centro de Estudos Judiciários não têm qualquer vocação ou preparação social para a profissão de juiz. Apesar de cientificamente demonstrarem que estão preparados, não revelam capacidades de liderança, de autoridade e de decisão essenciais ao exigente cargo de juiz. Exercem aquela profissão porque era a única que lhes oferecia um futuro minimamente seguro e estável.
Como resultado, nas audiências revelam-se timoratos, quase anódinos, com medo de impor uma posição e dirigir a diligência. Nas sentenças evidenciam uma confrangedora falta de objectividade e capacidade decisória, tentando sempre concertar interesses e posições, por mais inconciliáveis que elas sejam. Nada é branco ou preto, antes preferem um imenso cinzento que a todos toca e que a ninguém pode satisfazer.
No final de tudo isto, sai fragilizada a Justiça, dando a sensação de que se pretende ganhar uma guerra que está perdida à partida.

1.3.06

Arrepios de Carnaval

Acabado o Carnaval e a incompreensível ilusão de se estar num qualquer país tropical, aposto que em muitas cidades deste país a venda de aspirinas e antibióticos sobe em flecha.