Eutanásia: Cerca 50% idosos em Portugal admite legalização?
Um estudo realizado pelo Serviço de Biomédica e Ética Médica da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto terá concluído que cerca de metade dos idosos institucionalizados admite a legalização da prática da eutanásia. Este estudo foi realizado em 815 idosos de todo o país, residentes em lares de terceira idade. Atendendo à minha experiência profissional questiono-me acerca da credibilidade dos resultados de tal estudo. Com efeito, a grande maioria da população com idade superior a 65 anos apresenta níveis de escolaridade muito baixos, tendo a esmagadora maioria 4 ou menos anos de escolaridade. Esta situação, reconhecida há muito por neuropsicólogos, dificulta e tem que ser tida em consideração aquando da validação de instrumentos de avaliação criados em sociedades com níveis de escolaridade elevados. Por exemplo, num dos testes mais simples de avaliação cognitiva (Teste do Relógio) os idosos portugueses, sem patologia, têm um desempenho francamente inferior aos de outras populações europeias, necessitando frequentemente de ajuda na execução das tarefas por não compreenderem os conceitos abstratos. Além disso, seria interessante saber se o estudo incluiu uma análise da função cognitiva dos inquiridos e até que ponto o défice cognitivo constituiu critério de exclusão do estudo (é sabido que a institucionalização dos idosos está fortemente relacionada a um estado de incapacidade funcional e cognitiva pelo que será de esperar níveis significativos de deterioração cognitiva nesta população). Por tudo isto, e dado que estamos a falar de conceitos abstratos complexos (eutanásia, legalização) tenho sérias dúvidas em relação à capacidade de compreensão dos indivíduos avaliados.
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