8.10.07

Medicina

"O Governo quer alargar de 1400 para dois mil o número de vagas em Medicina, anunciou hoje o ministro da Saúde, António Correia de Campos, sem avançar um prazo para atingir o objectivo."

Quando se fala em aumentar o número de vagas em medicina, esquece-se muitas vezes que no percurso da carreira médica existem actualmente dois grandes filtros, primeiro a entrada na universidade, que é exigente, tirando as habituais chico-espertices portuguesas: estatutos de alta competição, regiões autónomas, emigração, via militar, transferências, etc. Exceptuando estes últimos, todos têm que se esforçar bastante para ingressar no curso de medicina.
Depois no final do curso, aparece um novo filtro, que é a escolha da especialidade. Sobre isto, nunca ouvi o ministro falar. Por exemplo, o ministro quando fala em produtividade dos blocos operatórios, tem em consideração aqueles em que intervêm internos onde obviamente o número de cirurgias realizadas tem que ser inferior. Quando o ministro fala em novos horários ou incentiva o abandono da carreira hospitalar, está a considerar que muitos serviços podem perder subitamente a capacidade de formação? O ministro sabe se é possível formar 2000 internos por ano o que é totalmente diferente de licenciar 2000 médicos? Alguém me explica como se ingressa em determinadas especialidades no Algarve ou no interior e passado uns meses, por artes mágicas, já se está num grande hospital central que não tem qualquer carência dessa mesma especialidade (para não falar de histórias ainda mais obscuras)?

Claro que vão dizer, que eu como médico o que quero é falta de concorrência e garantir o meu lugar. Mas quando se olha para as estatísticas e vemos que o número de médicos por habitante não é inferior à média europeia, e sabemos o que nosso país foi possível fazer em determinados cursos, o panorama não parece animador.

Relativamente ao nosso futuro (dos médicos), acabo com as palavras de Isabel Vaz, responsável pelo Espírito Santo Saúde, melhor que o negócio da saúde só o tráfico de armas (cito de cor). E certamente que não serão os médicos os beneficiários deste negócio...

Sem comentários: