Devo dizer que a questão sobre quem ganhou o debate parlamentar não me parece muito correcta, uma vez que o regimento da Assembleia da República está feito para o primeiro-ministro vencer, em qualquer circunstância e quase sempre por goleada. Diferente, é sabermos se Sócrates ou Santana Lopes desiludiram.
E aí, a verdade é que estiveram ao seu nível. Nunca, nem um nem outro, foram exemplos de substância e consistência política.
Sócrates utilizou o longo tempo disponível para encostar Santana Lopes aos seus erros pretéritos, sabendo que era isso que iria passar para a comunicação social, não se preocupando minimamente em responder às questões lançadas pela oposição ou explicar devidamente o que ali estava em discussão, o orçamento de Estado. Noutros tempos, esta arrogância poderia e deveria sair-lhe cara, mas o PSD facilitou-lhe a missão, pondo-lhe à frente o personagem político português mais atormentado pelo passado.
E aí entramos em Santana Lopes. Sabendo das suas fragilidades, tentou antecipar os ataques ao anterior governo por si liderado, distanciando-se do essencial, ou seja, os dias que correm, o presente e o orçamento para 2008. Com isto, deu o flanco a Sócrates e permitiu que este fugisse às questões mais difíceis.
O resto é a habitual desigualdade de armas entre governo e oposição, perante uma comunicação social que privilegia o folclore e o sound-byte que é o habitat natural do nosso primeiro-ministro, apesar da estudada aparência austera.