A Sport TV é um canal pago pelos espectadores, dedicado unicamente ao desporto e cuja grande fatia de emissão é composta pelo futebol. Com base nestas premissas, seria de esperar que estivessem nos seus quadros os melhores profissionais da área, nomeadamente, os melhores comentadores de futebol.
Nada mais errado. Os comentadores da Sport TV são, basicamente, ex-jogadores ou treinadores de futebol no desemprego. Por via disso, gostam de nos mostrar que tratam por “tu” grande parte das figuras futebolísticas do nosso país, o que lhes dá o raro privilégio e honra de as chamar pelo primeiro nome durante as transmissões dos jogos. “O Nuno não merecia… O Jaime é um homem emotivo… O João tem destas coisas… O Rui não recebe lições de ninguém… ”, entre outras pérolas.
Fora isso, nada de novo têm para nos dizer. Durante os jogos estão quase sempre calados, só soltando algum som após insistência do jornalista de serviço. Os seus discursos são redondos, desprovidos de qualquer acutilância e arrojo, onde abundam as frases feitas e os lugares comuns. O português falado é débil. Por serem pessoas daquele meio, que procuram aí empregos ou lugares nos inúmeros órgãos de gestão ou nas galas e jogos comemorativos, evitam sempre a crítica directa, ou mais severa, enveredando sempre por generalidades.
A análise táctica e de aspectos menos acessíveis aos espectadores comuns não vai muito além do tradicional 4-3-3, 4-4-2 ou 5-3-2, “com jogadores bem abertos nas alas”, “um ou dois à frente da defesa”, algum “a descair para os flancos”, “pressionando a equipa como um bloco”. O “futebol acaba sempre por ser isto mesmo” e “o jogo tem sempre duas partes distintas”. O treinador é sempre elogiado quando ganha e (acanhadamente) criticado quando perde, mesmo quando a táctica é a mesma.
Por coincidência, ou talvez não, o único comentador que conseguiu fugir a todos estes ditames foi José Mourinho, no curto espaço de tempo em que esteve sem treinar.
Num aspecto a Sport TV teve algum mérito, pôs-me a ver Gabriel Alves com outros olhos…