3.3.06

Diferenças

Quem assistia aos debates parlamentares protagonizados pela actual liderança do PS quando estava na oposição aos governos de Durão Barroso e Santana Lopes, dificilmente acreditaria que eram as mesmas pessoas. Muitas das medidas agora vigorosamente defendidas são as mesmas que num passado recente eram atacadas e combatidas até à exaustão.
Como resultado, temos os dois maiores partidos portugueses cada vez mais parecidos, trocando apenas de posições, consoante estejam no governo ou na oposição, com evidentes resultados na sua credibilidade política.
No entanto, o que continua a ser diferente é o tratamento que alguma comunicação social e os sindicatos aplicam a essas medidas, que varia consoante o partido que as propõe. E temos vários exemplos flagrantes disso.
O que não se diria se fosse um governo do PSD a preparar-se para mudar a lei do segredo de justiça nos termos em que a actual maioria se propõe fazer? O que não se escreveria se fosse Manuela Ferreira Leite a limitar abusivamente o legítimo direito de reclamação dos contribuintes como se prepara para fazer o actual Ministro das Finanças? Onde estão os argumentos anti-economicistas, sempre tão prontos a sair, contra as (boas) medidas da ministra da Educação? Que gritos de indignação não se ouviriam se um ministro dos Negócios Estrangeiros dos anteriores governos dissesse as barbaridades que Freitas do Amaral tem dito acerca da liberdade de expressão, da sua “licenciosidade” e da violência de alguns povos árabes? Aliás, nem é preciso ir tão longe. Bastava que o mesmo Freitas fizesse parte de um governo de cor mais laranja e azulada.
A verdade é que este governo, além da já esperada bonomia de muitos sindicatos e associações, tem contado com uma comunicação social extremamente favorável, que lhe dá todo o espaço de manobra de que necessita e que o ajuda a construir almofadas que absorvem qualquer assunto mais desconfortável.

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