19.3.06

Demência ao volante...

Os mais recentes casos de condutores em contra-mão nas auto-estradas vêm, mais uma vez, levantar a questão da avaliação das capacidades de condução nos indivíduos idosos. De facto, o perfil típico do condutor que comete este tipo de infracção é ter idade avançada, apresentar défices cognitivos e tomar psicofármacos. Infelizmente, a avaliação das capacidades dos condutores idosos para renovação da carta de condução não passa de um exame médico grosseiro, que detecta apenas alterações físicas graves. Faz-se um rastreio sumário da visão, da audição e da coordenação. No entanto, as funções nervosas superiores, como a memória, linguagem, atenção e capacidade visuo-espacial não são avaliadas de forma sistemática, o que poderia ser feito facilmente com recurso a instrumentos como o Mini Mental State Examination, cuja aplicação não demora mais de 5 minutos. É de esperar que, com o aumento exponencial da demência a partir dos 65 anos, e com a falta de sensibilidade das avaliações médicas para renovação de carta de condução, que muitos condutores continuem a conduzir até atingirem um estado de deterioração cognitiva moderada a grave, tal como nos casos recentemente descritos na comunicação social. É pena que a situação actual seja considerada quase inevitável e se atribua a responsabilidade apenas aos próprios condutores que, exceptuando casos excepcionais, não têm discernimento para compreender o que se passou.

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