6.4.06

Choque de gerações

Depois de largos meses a falar de um suposto choque de civilizações, começam a agora a aparecer, cada vez mais insistentemente, sinais de um choque de gerações. Choque esse que se verifica entre a geração daqueles que têm entre os 20 e os 30 anos e a geração dos que têm 50, ou mais, anos.
A propósito da rigidez e da falta de mobilidade do emprego, no continente europeu, começam a surgir comparações entre quem tenta, agora, iniciar uma vida activa, recém-saído da universidade, e aqueles que o fizeram há trinta anos atrás.
Como bem diz José Manuel Fernandes, hoje, no Público (link indisponível), a verdade é que se no passado aqueles que acabavam os seus cursos tinham uma porta enorme de oportunidades à sua frente, hoje em dia, os mais jovens, mesmo não se ficando pela simples licenciatura, esforçando-se e qualificando-se com inúmeras teses de pós-graduação, mestrado ou doutoramento, não encontram mais do que umas pequeníssimas janelas, sem grande expressão, deparando com quase todas as portas fechadas, com ferrolho e trinco duplo.
O que está se está a verificar é que aqueles que têm mais de 50 anos vivem segundo as regras que eles próprios criaram e os tornam indispensáveis e intransferíveis. Pelo contrário, quem agora começa tem que se inserir num mundo em que as regras foram ditadas por aqueles que eles almejam substituir. Resultado, os que deviam ser substituídos, por uma questão de mérito ou de eficiência, trataram de se proteger convenientemente, adquirindo um estatuto de inamovíveis.
É muito frequente para quem inicia uma profissão verificar que certos indivíduos (não todos, obviamente) que sempre foram olhados por quem estava fora do meio como autênticos especialistas e fora de série, não passam de profissionais vulgares, acomodados, sem brilhantismo, que apenas se limitaram a lucrar com a falta de concorrência. Se, num mercado livre, o seu destino seria a escolha entre a competitividade e o desaparecimento, num mercado fechado e com regras viciadas o resultado é a acomodação.
Sob a desculpa de um Estado Social (em que ainda acredito) que a todos tem de acorrer, criou-se uma verdadeira malha de direitos, intransponível e inalienável, que traz a prosperidade (merecidamente ou não) para os que estão no fim da sua vida activa, mas deixa na miséria quem a pretende iniciar.
O problema do chamado Contrato de Primeiro Emprego não é tentar introduzir flexibilidade no mercado de trabalho para aqueles que têm menos de 26 anos, porque desses são poucos os que têm emprego. O maior problema é que seria necessário alargar essa flexibilidade a todos os escalões etários, mesmo que não nos termos que estão previstos para o CPE e que apenas se compreendem pelo seu curto alcance.
Os mais jovens que tentam, também eles, manter a situação, fazem-no na esperança de um dia poderem, eles próprios, assistir comodamente a tudo isto, mas o mais provável é que esse dia não passe de uma inalcançável miragem.
É óbvio que não defendo aqui um mercado de trabalho totalmente liberal, desprotegido e desregulado, mas penso que urge repensar esse mercado no continente europeu, mesmo que para isso fosse necessário colocar em dúvida alguns direitos que já considerávamos inalienáveis.

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