A discussão em torno da necessidade ou perversidade do aconselhamento prévio a uma interrupção da gravidez está, finalmente, a desmascarar alguns argumentos falaciosos que foram veiculados por alguns defensores do SIM. Durante o debate que antecedeu o referendo ficou aparentemente claro que haveria um consenso generalizado sobre algumas questões:
- que o aborto não é um acto inócuo;
- que o aborto deve ser combatido, não apenas o ilegal, mas todos os abortos motivados nomeadamente por carências económicas e sociais;
- que o aborto é realizado, habitualmente, em contexto de elevada tensão ou perturbação emocional, por vezes sob pressão de familiares ou do próprio pai da criança, não se justificando a penalização de uma mulher já de si penalizada com uma vivência traumatizante;
Assim, durante a discussão pública, muitos dos defensores do SIM argumentaram que, não estando em causa a liberalização, isto é, a prática de aborto sem condicionalismos, o que se pretendia era apenas a despenalização da mulher caso não fosse possível evitar a IVG. Agora, ao abdicar-se do "aconselhamento", isto é, de um esclarecimento sério e de apoio económico, social e psicológico, torna-se claro que, afinal, todos esses argumentos foram usados em vão.