11.10.07

NHS e SNS

O estado do Serviço Nacional de Saúde no Reino Unido (NHS) é notícia hoje nos meios de comunicação por mais um triste episódio que é um bom indicador da situação preocupante que se vive neste país. Uma Comissão de Saúde que investigou níveis alarmante de infecção por Clostridium difficile com elevadas taxas de mortalidade nos doentes publicou um relatório devastador para a qualidade dos serviços de saúde prestados no Hospital de Maidstone. As notícias sobre problemas no NHS são frequentes e, apesar do dinheiro gasto, os indicadores de saúde e de satisfação dos utentes não têm melhorado. Em Agosto, num relatório comparativo com outros países europeus, o Reino Unido surgia ao lado de países do Leste europeu nos níveis de sobrevivência por cancro quando é dos países que mais gasta no diagnóstico e tratamentos oncológicos. Curiosamente, o actual estado do NHS é o resultado de políticas que se apoiaram numa progressiva mas sustentada deterioração do estatuto profissional dos médicos e dos profissionais de saúde, como alguns defendem para Portugal. Após a abertura de vagas de Medicina em excesso, e com o "mercado a funcionar" os Hospitais-empresa basearam as suas contratações em mão de obra barata, desesperada por aceitar qualquer lugar mesmo que indiferenciado, e numa medicina "a peso" que valoriza a quantidade em desfavor da qualidade. Se é verdade, como alguns dizem, que o Reino Unido está uns anos à frente de Portugal, então ainda vamos a tempo de aprender com os erros deles...

3 comentários:

koolricky disse...

Sinceramente, este post só pode ter sido escrito por alguém que tem uma pura e completa ignorância dos serviços que o NHS exerce. É verdade que o NHS tem muitas deficiencias, e a taxa de infecção de C difficille é um (dos muitos) assuntos que podem ser abordados neste sentido. Mas não há serviço de saíde perfeito!
Tenho pena que ninguém fale do facto da comparticipaç
ao total dos medicamentos, ou que as pessoas com doenças crónicas tenham em média três serviços ao domicílio (empregados de limpeza, enfermeiras e fisioterapeutas) além de descontos e reduções em coisas simples como transporte para o supermercado, etc.
É um facto que o NHS emprega 1 pessoa para cerca de 40 pessoas e com isso se deveria ter uma taxa de sucesso muito maior. No entanto, não creio que o futuro esteja num modelo privado tipo Americano. Aliás, a comparar, aquele que é o país mais rico do mundo tem uma Esperança média de vida de 76 anos comparada à esperança média de vida de 79 no Reino Unido? Será porque o tempo é melhor no Reino Unido?

Joaquim Cerejeira disse...

Penso que ambos estamos de acordo quanto ao facto de o futuro não estar num modelo privado de tipo americano. Pelo contrário, as minhas críticas recaem precisamente no que o modelo do Reino Unido se assemelha ao americano: gestão baseada em contabilidade e não em pareceres técnicos, decisões clínicas altamente influenciadas por factores económicos, perda da influência da classe médica na gestão dos recursos humanos e técnicos. Quanto ao facto de o post ter sido escrito por um ignorante nos serviços que o NHS exerce tenho a dizer que o meu conhecimento acerca do NHS me é dado por 4 meses de trabalho num serviço de Psiquiatria de ligação em Gerontopsiquitria que cobre 3 hospitais em Newcastle upon Tyne (Newcastle General Hospital, RVI e Freeman Hospital). Em relação às políticas de apoio a doentes crónicos devo relembrar a recente polémica com as NICE guidances que impõem restrições ao uso de fármacos inibidores da acetilcolinesterase para a demência bem como a fármacos para tratamento oncológico. Finalmente, se ainda restarem dúvidas aconselho vivamente a leitura do relatório "The Human Rights of Older People in Health-care" publicado em Julho e disponível na internet.

koolricky disse...

Caro Joaquim:
Em primeiro lugar peço desculpa pela exaltação com que respondi o seu post, não o quis chamar ignorante mas notei pelo post que talvez não conhecesse o NHS como diz conhecer. As minhas desculpas.
Como deve saber, estão a ser postas em prática medidas revolucionárias (Tomorrow's doctors) no NHS que, apesar de todo o dinheiro que gasta, não é a máquina que um país como o Reino Unido deva ter, muito por culpa das décadas de abandono que teve pelos sucessivos governos conservadores. A falta de retorno que fala no seu post tem, provavelmente, a ver com a necessidade que o governo trabalhista teve de actualizar as instalações dos Hospitais, em muitos casos, construíndo-os de raiz, elevando os custos da saúde.
Não pense que por trabalhar no NHS não possa ver os defeitos. Aliás, no blog para o qual contribuo alertei para o escândalo da infecção de C. Difficile em Maidstone (http://mesadaciencia.blogspot.com
/2007/10/wash-your-hands.html). Simplesmente, acho que esse problema específico não tem a ver com dinheiro gasto ou políticas de saúde. Tem a ver com a gestão de um hospital na higiene dos doentes e dos profissionais de saúde.