5.9.06

O jornal

O fecho do “O Independente” originou algumas discussões sobre o estado da imprensa escrita em Portugal e sobre o seu futuro.
Independentemente dos vícios e defeitos que cada jornal possa ter, a meu ver, a imprensa não tem sabido adaptar-se aos novos tempos, mais concretamente à Internet (primeiro) e ao novo mundo de informação e opinião que se abriu com a explosão da blogosfera (depois).
Mesmo tendo sobrevivido à televisão, a verdade é que os jornais perderam grande parte do seu estatuto como fonte única de informação desde que a Internet passou a disponibilizar, nos seus milhões de sítios, informação imediata e completamente gratuita. Quer isto dizer que o conteúdo informativo só por si deixou de ser o motivo mais relevante para a compra do jornal, que, no entanto, continuava a apresentar um forte argumento para a sua compra nos artigos de opinião de figuras mais ou menos relevantes que publicava.
Porém, o advento e posterior massificação da blogosfera acabou por dar a machadada final num dos únicos e importantes exclusivos que restava à imprensa escrita.
Hoje em dia, é rara a figura pública com algum peso na vida política e social portuguesa que não tem o seu blogue, dedicando parte do seu tempo a escrever o que pensa sobre determinado assunto da actualidade, sem qualquer constrangimento editorial ou de espaço e facilmente acessível.
Qualquer pessoa razoavelmente curiosa e interessada consegue manter-se medianamente actualizada pelo simples facto de possuir um computador com ligação à Internet, acedendo a múltiplos sítios informativos e a blogues políticos ou dedicados a toda a actualidade.
Não me parece que a via de digitalizar o jornal, tornando esse serviço pago, seja a solução, uma vez que para quem lê é muito mais confortável fazê-lo tendo como suporte o papel do que através de um monitor, pese embora os avanços tecnológicos. Deste modo, para quem paga, será sempre preferível fazê-lo comprando a versão em papel do jornal.
A única solução que se avista é o aprofundamento do conteúdo dos jornais, tornando-os complementares à informação imediata e instantânea que pode ser recolhida através da televisão ou da Internet. O jornal apenas sobreviverá se oferecer aos seus potenciais leitores algo que estes não encontrem nos outros canais de informação, como reportagens aprofundadas (temos um bom exemplo disso na secção “Destaque”, do “Público”), opiniões de verdadeiros e, por vezes, menos acessíveis especialistas e jornalismo de investigação, autêntico, e não aquele “deixado” propositadamente por assessores de imprensa.
No entanto, não parece ser esse o caminho que se está a tomar. Aparentemente, continua a procurar-se a via mais fácil, sendo exemplo flagrante disso a anunciada renovação do “Expresso”, onde se promete uma redução de 30% do conteúdo escrito.

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