22.7.07

Desenvolvimento?

A questão da baixa natalidade é apenas um dos sintomas de um fenómeno muito preocupante que se instalou nas Sociedades ocidentais. A par da baixa natalidade temos também, e em associação, o problema da população idosa. Na minha experiência profissional um número muito significativo de pessoas idosas que observo, encaminhadas para consultas de Psiquiatria, sofrem de uma doença chamada "solidão". O estilo de vida actual é incompatível com o acompanhamento e o apoio aos idosos por parte da família. Ainda que zelosos e interessados, os filhos pouco podem fazer quando as suas obrigações profissionais os obrigam a sair de casa bem cedo e a regressar à noite. Sobre eles recai ainda o peso de educar e prestar assistência às crianças. Não admira, pois, que os idosos fiquem entregues a si próprios, passando dia após dia sozinhos. A resposta que a sociedade actual tem dado a este problema é simplesmente medicalizar a solidão: considerar que a tristeza e a perda de interesse pela vida são "depressão" e portanto, pertencem ao domínio da Medicina, devendo ser tratados como uma doença. Por outro lado, medidas como a institucionalização dos idosos em lares ou o recurso a profissionais que prestam apoio domiciliário, se podem ser, sem dúvida, uma grande mais valia em caso de idosos com significativa incapacidade funcional, parecem estar a ser usadas como mais uma resposta que a Sociedade oferece às famílias para conciliar o estilo de vida actual com a necessidade de prestar assistência aos idosos. Só que esta falsa solução não só adia como também agrava o problema. É que, para atender ao problema dos idosos solitários é necessário recrutar e organizar um sem número de serviços altamente dispendiosos, com o recurso a diversos profissionais que, por sua vez, ficam cada vez menos disponíveis para prestar assistência aos seus próprios familiares. Quer dizer, os idosos estão a ser transferidos do seu ambiente natural, da sua família e do contacto com as pessoas que lhes são afectivamente significativas para serem colocados sob uma assistência "profissional", medicalizada para permitir às suas famílias a continuação de um estilo de vida focalizado na carreira profissional e nos rendimentos económicos. Estará a sociedade actual condenada a um cenário em que as classes etárias economicamente activas, para criar riqueza, têm que abdicar do futuro?

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