13.12.05

É bom viver em Braga!!??

Infelizmente, talvez por aqui viver durante todo o ano, não compartilho do optimismo do Joaquim em relação a Braga.
Apesar de reconhecer que a cidade demonstra uma certa vivacidade, se comparada com outras de dimensão similar, penso que o desenvolvimento de Braga está repleto de pontos negros, especialmente graves se pensarmos que são recentes e poderiam ser facilmente evitados.
Discordo com o Joaquim quando diz que “o aspecto mais negativo da cidade de Braga” é o actual hospital. Braga tem muitas carências que não são alvo de resposta alguma ou de qualquer tentativa por parte das forças da cidade para as resolver. O hospital é apenas uma delas.

Braga é uma cidade com uma política urbanística (se é que a tem) caótica, onde os bairros mais recentes são meros amontoados de betão. Ali convivem com estradas estreitas, estrangulados passeios, em que imperam os carros mal estacionados, e onde não se vislumbra qualquer espaço verde, se excepcionarmos alguns inúteis canteiros, rotundas e a cor de alguns edifícios.
Apesar da esmagadora maioria da malha urbana ser recente, edificada nos últimos 30 anos, não foram criadas novas centralidades, girando toda a vida da cidade em torno do velho e, ainda (por enquanto, pese embora algumas tentativas “bem” sucedidas), atraente centro histórico. As novas urbanizações limitam-se a criar espaços para cafés de rés-do-chão e alguns stands de venda de automóveis usados.

Aliás, basta ver o verdadeiro atentado que foi e está a ser feito na zona do hipermercado Feira Nova e do centro comercial Braga Parque, em que qualquer espaço livre é utilizado para construção de habitação, sem se atentar minimamente na necessidade de vias de escoamento de trânsito e em baías de estacionamento. Para agravar ainda mais a situação, está prevista, para a mesma área, a construção de mais uma gigantesca superfície comercial, o Braga Retail Park, sem que esteja prevista qualquer via de acesso, que não aquela que já dá acesso às duas superfícies que já existem. Resultado: o trânsito, embora a zona construída não tenha mais de 10/15 anos, é caótico, já que cada sentido de trânsito apenas tem direito a uma via, e isso quando esta não está impedida por veículos mal estacionados ou por andaimes de prédios em construção. Mas a situação promete piorar.
Em qualquer país civilizado obrigar-se-ia a entidade responsável pela superfície comercial a construir os respectivos acessos. Mas, provavelmente, em qualquer país civilizado a dita superfície comercial nunca existiria.

O crescimento económico deveu-se quase exclusivamente à construção civil, que se soube aproveitar, bem apoiado pela/na câmara municipal, do desenvolvimento do pólo de Braga da Universidade do Minho e da pressão demográfica de todo o distrito.
Todos os negócios giram em torno das empresas do ramo, que são das mais fortes do sector e das poucas que se conseguiram impor à escala nacional (temos o belo exemplo da Bragaparques).

Braga não tem qualquer política cultural. Há anos que se arrasta a reconstrução do antigo Teatro Circo, não havendo qualquer iniciativa de relevo. As afirmações do ilustre líder da autarquia em apresentar a cidade como capital da cultura só podem levar ao riso (triste e indignado) de quem cá vive e sabe do que foi sendo feito nos seus sucessivos e eternos mandatos.
Gaba-se de ter construído o novo Estádio Municipal, mas nem a sua propagandeada e aclamada mais valia estética consegue justificar a excessiva ambição no número de lugares e a exorbitância dos custos, para uma população que há anos reclama e necessita (como bem diz o Joaquim) de um hospital condigno.

Ainda gosto de viver em Braga (cada vez menos), porque cá nasci e porque a sua dimensão me permite alguns luxos que já não são permitidos noutras paragens. Mas é cortante assistir ao que por aqui tem sido feito por alguns, que se comportam como se tudo lhes pertencesse, sem que haja alguém que os consiga parar ou pelo menos chamar a atenção para que sejam parados.

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