14.12.05

Um primeiro balanço

O debate de ontem, entre Cavaco Silva e Jerónimo de Sousa, trouxe mais do mesmo, não oferecendo qualquer novidade.
Cavaco tem gerido bem a sua vantagem, não cometendo erros graves ou proferindo afirmações que lhe possam trazer dissabores. Cavaco nunca foi muito forte na oratória e na agilidade do discurso, mas tem sabido defender-se e evitar danos maiores. O tom morno e pouco emotivo dos debates tem favorecido a sua candidatura, e, pese embora o formato o favorecer nesse aspecto, os seus adversários têm-se revelado incapazes de desfazer a sua argumentação.
Ontem, Jerónimo de Sousa limitou-se a tentar embaraçar o ex-primeiro ministro com a sua anterior governação, mas com poucos resultados. Aliás, essa estratégia, também utilizada por Louçã, não deixa de me surpreender, já que a memória colectiva do nosso povo, principalmente nos últimos anos, tem mostrado uma quase unanimidade em considerar esse período como a fase dourada da nossa democracia.
Jerónimo de Sousa voltou a demonstrar que é muito mais forte no contacto de rua do que na discussão, sendo um adversário fácil para Cavaco que ontem pôde enfatizar as suas preocupações sociais, que caíram que nem uma luva num candidato comunista que evitou ao máximo a radicalização.
É verdade que este lado mais social-democrata do professor pode desiludir um pouco alguns dos seus votantes economicamente mais liberais, mas esse lado é genuíno e sempre esteve com ele. As pessoas não se podem esquecer que foi Cavaco Silva quem inventou o centro político em Portugal.
Uma última palavra para os entrevistadores, demasiado brandos e resignados, levando excessivamente o debate para a área da economia e dos aspectos da governação, deixando de lado os verdadeiros poderes do Presidente da República, principalmente na área da Defesa e da política externa.

P.S. É indubitável que, apesar das suas fraquezas discursivas e doutrinais, Jerónimo consegue parecer muito mais credível e sério que Louçã, sabendo resistir a episódios demagógicos e àquelas falácias e afirmações de franco-atirador em que o dirigente bloquista é um especialista.

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