É isto um debate?
Mesmo sendo por quase todos esperado, foi verdadeiramente chocante o comportamento de Mário Soares, ontem à noite.
Perante a total passividade dos moderadores, que não o viram responder-lhes a uma única pergunta ou a lançar um único pensamento para o país, Soares limitou-se a agredir verbalmente Cavaco Silva, com um total desrespeito e uma total falta de educação e de decoro.
O que não aconteceria se, ontem, os papeis se tivessem invertido. Todo o pudor, com que muitos comentadores travam, hoje, as suas línguas e as suas penas, sairia livre, enraivecido e incontrolável, pronto a abater os assomos de suprema indelicadeza, despeito, arrogância, sobranceria e desdém com que um dos candidatos tinha tentado destruir a honra e a pessoa do outro.
Ontem, viu-se quem tem projectos e uma ideia do que pretende para o país. Cavaco foi, de facto, o único que entrou no debate para discutir e apresentar os seus pensamentos e concepções. Ontem só se discutiu (quando isso era possível) um modelo e um projecto presidencial.
Soares limitou-se a envergar o seu fato de “caça-Cavaco”, andando sempre a reboque das declarações do ex-primeiro-ministro (“eu também sei economia”, “eu também dei aulas”, “eu também participei em conselhos europeus”), e tentando, por todos os meios, provocar e desestabilizar o seu opositor, nem que para isso tivesse de utilizar os estratagemas mais torpes e rasteiros.
A uma imagem de seriedade, honestidade, responsabilidade e de trabalho, contrapôs-se, de forma crua e rude, outra imagem de crispação, vingança, vazia de conteúdo e leviana.
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