22.11.06

A entrevista presidencial

Sobre a entrevista do Presidente da República, apenas queria dar conta de alguns apontamentos.
Ao contrário do que muitos escreveram, penso que Cavaco Silva decidiu conceder esta entrevista com um claro objectivo: mostrar que, desde o dia em que os portugueses lhe confiaram o cargo, traçou um rumo e um caminho que, na sua opinião, será aquele que melhor defenderá os interesses do país.
Traçado e definido esse rumo, o presidente demonstrou e tem demonstrado que está na disposição de apoiar Sócrates e o seu governo, desde que estes conduzam a sua actuação pelos caminhos por ele traçados, não por uma questão de obrigação, entenda-se, mas por uma questão de sintonia.
Enquanto isto acontecer, o presidente caminhará dando a mão ao governo, caso contrário, a distância que os separará impossibilitará grandes entendimentos, dando lugar a cooperaçao estratégica a uma nova fase.
Este entendimento dos poderes presidenciais enquadra-se no perfil de Cavaco Silva, apesar de poder desiludir alguns dos seus apoiantes e vorazes comentadores políticos. É menos excitante e apaixonante do que o seu comportamento enquanto primeiro-ministro, mas isso deve-se mais à natureza dos cargos e dos poderes neles previstos, do que a alguma mudança no carácter ou na personalidade de Cavaco.
Quer isto dizer que o Presidente da República quis afirmar, mais uma vez, para não contarem com ele para a intriga política ou conspiração estratégica, já que apenas pretende cumprir o seu papel, desempenhando o seu cargo, não estando nos seus horizontes substituir ninguém.
No entanto, ao assumir claramente esta posição, Cavaco deverá ter o cuidado de não afiançar a politica governativa, já que corre sérios riscos de perder a margem de manobra necessária quando e se necessitar de chamar o executivo à pedra.

1 comentário:

Anónimo disse...

Óptima análise! Há pessoas que viram muito mais nas palavras do Presidente do que ele realmente disse, e outros esquecem-se que um órgão de soberania, o Presidente da República, apenas manifestou a devida cooperação institucional para com outro órgão de soberania, o Governo.
Relembro aos mais distraídos que em relação às reformas o que Presidente disse foi que quanto às reformas elas prescisavam de ser feitas, já quanto à sua intensidade e qualidade competia à oposição pronunciar-se.