19.1.07

O Brasil que conheci (III)

Um dos aspectos mais interessantes que observei na imprensa brasileira é o optimismo mitigado que actualmente os seus agentes eonómicos vivem. Encontra-se nos brasileiros uma forte esperança no crescimento económico dada a situação mundial, mas essa esperança é atenuada por uma enorme apreensão face ao novo governo de Lula.
Quer isto dizer que, ao contrário do ambiente que se vive na Europa, vive-se no Brasil uma intensa euforia face ao aparecimento de potências emergentes e aos efeitos da globalização. Todos entendem que é uma oportunidade única para o avanço do país e para a sua consolidação económica, cujo crescimento se tem situado acima dos 6% e onde a inflação teve os números mais baixos dos últimos anos.
No entanto não escapa aos seus observadores que o país é aquele que obtém os piores resultados de entre os países emergentes. Aliás, a própria Argentina prepara-se para ultrapassar novamente o Brasil em termos de crescimentos económico, estando já quase recuperada do sismo que atingiu todos os alicerces da sua economia em 2003.
Além disso, existe uma forte corrente na opinião pública que acusa o governo Lula de falta de susbstância nas suas políticas que, lá como cá, vive à custa de slogans pomposos que facilmente entram no ouvido (o último é o PAC, Plano de Aceleração de Crescimento, que ninguém ainda sabe bem do que se trata).
A tudo isto junta-se uma corrupção generalizada em todo o sector político, desde o governo federal, passando pelo congresso e acabando no governo estadual, que paralisa os sectores nevrálgicos do país, consome uma grande parte dos seus recursos e onde existe um forte sentimento de impunidade.
A este respeito, basta dizer que um governador estadual não vê qualquer problema em admitir a um órgão de comunicação social que um irmão seu tem uma pousada numa reserva ecológica do Estado, de onde retira proveitos económicos exclusivos.
A seu favor, os brasileiros têm a sua mentalidade optimista e a sua enorme auto-confiança, o que leva a que um editorial pessimista da revista Veja se assemelhe ao mais optimista dos artigos de Vasco Pulido Valente ou Miguel Sousa Tavares.
Uma última palavra para o governo Chávez. Lá, ao contrário do que por vezes se vê por aqui, o líder venezuelano é visto como uma vedadeira ameaça, facto que não é apenas justicado pela sua afirmação como o líder mais forte da America latina, suplantando o papel que seria do Brasil. Os brasileiros olham para ele com muita desconfiança e receio dos efeitos económicos das suas medidas, tendo perfeita consciência que Chávez apenas encontra alguns apoios fora do continente devido à sua forte e rude oposição a George W. Bush (que também está longe de ser bem visto).

Sem comentários: