30.5.06

Mostrem-nos futebol

A propósito do Mundial de futebol, tem-se discutido nalguns meios de comunicação social a importância do fenómeno e a exacerbada atenção que muitos lhe dispensam. De um lado estão aqueles que gostam ou vivem do futebol e do outro os seus detractores, para quem a realização do evento é um autêntico tormento que lhes entra pela casa, a toda a hora e por todos os meios.
Em primeiro lugar, devo dizer que adoro futebol. Acho que é um espectáculo de verdadeira beleza e complexidade que merece toda a atenção e respeito, pese embora ser praticado e desempenhado maioritariamente com os pés.
Não concordo, por isso, com aqueles que tudo fazem para o diminuir e que consideram, por regra, os seus praticantes e aficionados como seres intelectualmente menores, a quem nada mais foi concedido que não a capacidade de gostar e compreender o futebol. A satírica visão de que são 22 homens atrás de uma bola é tão redutora e bacoca como aquela que apenas apreende um monte de pedras ou uma mistura de tintas numa escultura ou pintura abstracta.
No entanto, aquilo que sinto pelo futebol começa e acaba no relvado. A admiração por Ronaldinho, Mourinho, Shevchenko, C. Ronaldo, Deco, Henry, Capello, Quaresma, R. Carvalho, Zidane e companhia, apenas dura os 90 (ou 120) minutos em que pisam primorosamente e como ninguém os relvados. De resto, não me interessa minimamente saber o que sentem quando são recebidos por todos os políticos desde o presidente da Junta ao Presidente da República, ou vêem uma multidão aos saltos, clamando pelo nome deles. Na maior parte das vezes apenas soltam lugares-comuns mal articulados e vazios de qualquer conteúdo, próprios da sua falta de formação, pessoas a quem a vida sorriu, enchendo-lhes os bolsos de dinheiro e o ego de notoriedade social.
Enquanto correm, fintam, inventam tácticas, cortam, pressionam, passam, defendem, atacam, se desmarcam, têm todo o meu respeito e veneração. Mas não quero saber o que jantam, como se penteiam, o que bebem, como se divertem, a que horas acordam, que livros (não) lêem e que filmes vêem.
Não me incomoda que sejam bem pagos, apenas os posso invejar. É a velha máxima da oferta e da procura. Se lhes dão aquele dinheiro é porque há quem o pague para os ver (como eu, por exemplo). Mas não me obriguem a saber onde e com quem o gastam.
Quer isto dizer que, até eu, me sinto enjoado com os telejornais dos últimos dias e as infindáveis reportagens, conferências de imprensa em directo e a excitação que muitos querem tornar obrigatória em volta da nossa selecção.
Mais, não vou colocar qualquer bandeira na varanda (nem que seja por uma questão de bom gosto) e não recebo lições de patriotismo de ninguém. Seguindo o raciocínio de Miguel Sousa Tavares, na edição de hoje de A Bola (link indisponível), sou muito mais patriota quando critico a Câmara Municipal de Braga do que quando coloco uma bandeira a enfeitar a janela lá de casa.

1 comentário:

João Pedro Martins disse...

Apesar de não ser coisa rara estarmos de acordo, deixa-me dizer que não tenho nem uma palavra a acrescentar ou retirar a esta tua opinião! Tá cá tudo!