11.5.05

Exigência nas universidades

Relativamente à questão do elevado insucesso escolar universitário, não podemos esquecer as raízes culturais e sociais da população portuguesa. Na esmagadora maioria dos casos, os actuais estudantes universitários são os primeiros da sua família a frequentar o ensino superior e os seus pais apresentam níveis de escolaridade muito baixos com profissões indiferenciadas. O estudo e o trabalho intelectual são uma novidade com que estas famílias têm que aprender a conviver, o que muitas vezes não é fácil, sobretudo quando desde cedo os jovens são estimulados a ir "trabalhar", como fizeram os seus pais e irmãos. Por outro lado, outras famílias, diríamos nós numa primeira impressão, mais esclarecidas, oferecem aos filhos todas as condições e estímulos para se concentrarem no curso universitário. No entanto, em muitos casos, esse empenho esforçado é o reflexo de um certo deslumbramento com o ensino superior, que tenta, a todo o custo, criar um "doutor" na expectativa, totalmente ilusória mas que infelizmente ainda subsiste, de prestígio social e desafogo económico, levando os incautos a ingressar em cursos sem futuro.
O panorama actual coloca-nos perante o paradoxo da exigência/abandono escolar. Não esqueçamos que Portugal apresenta os níveis europeus mais elevados de abandono escolar no ensino secundário. A sua redução imediata só é possível através de uma diminuição da exigência. Medidas sociais e económicas só serão visíveis a médio e a longo prazo. O país ainda está a atravessar uma fase de alfabetização generalizada que terminará dentro de uma geração. A ideia de que nem todos os alunos podem frequentar o ensino superior, por incapacidade intelectual não me parece de todo correcta. Se é certo que alguns estudantes têm mais vocação para uma carreira profissional mais prática e menos intelectual, também é verdade que o povo português não apresenta taxas de prevalência de oligofrenia superiores às dos outros países desenvolvidos.
A questão que eu considero mais preocupante não é tanto o mau desempenho académico que se verifica numa grande parte dos estudantes desinteressados ou mal preparados mas sim qual a preparação que as universidades portuguesas proporcionam aos melhores alunos.

3 comentários:

Pedro C. Azevedo disse...

Eu não digo que o maior problema seja a falta de capacidade intelectual dos estudantes universitários. E se passei essa ideia, desde já, a retiro.
O que penso é que a grande maioria vem muito mal preparada do ensino secundário, onde se tem assistido a uma contínua desresponsailização dos seus alunos.

Joaquim Cerejeira disse...

De facto, nos últimos anos, sobretudo durante os Governos de António Guterres, a política da educação esteve ao serviço de alguns teóricos de Ciências da Educação que, desenvolvendo modelos de grande complexidade mas altamente especulativos, pretendem transformar o processo de aprendizagem numa actividade puramente lúdica. Isto infantiliza e deresponsabiliza os alunos, levando até à desmotivação e ao alheamento dos alunos com maiores facilidades de aprendizagem.

Vintage disse...

Sou forçada a concordar, na qualidade de estudante universitária. Óbvio, parte do fracasso escolar, se deve ao referido "alheamento dos alunos", e aos facilitismos, ainda que bem intencionados, por parte dos pais e do sistema educativo.
Para se obter uma licenciatura, é preciso empenho e estudo. Porém, também é fulcral compreender e instigar a reflexão sobre o estudo. Infelizmente, há muitos catedráticos cujo título honorífico, foi atribuído por razões partidárias, de bom-nome, convenhamos, por interesse das instituições e não pela sua notabilidade pedagógica e formativa. Na minha opinião,(em crescimento, portanto, por vezes errónea) a resolução do problema em Portugal, passará por uma ruptura, aquando da contratação de docentes, com o estatuto socio-económico do mesmo, tal qual países europeus desenvolvidos. Contudo, supra admiti, e na vernácula expressão, subescrevo: "São preciso dois para dançar o tango", um bom professor, requer um aluno aplicado.