18.5.05

O empresário português

A economia portuguesa, como é mais do que sabido e constatável, encontra-se numa grave crise, que só não assume maiores proporções porque estamos inseridos na União Europeia, acabando esta por servir de almofada em muitas situações.
Uma das razões dessa crise, além dos inúmeros problemas estruturais e da pobreza em recursos naturais do país, é a fragilidade das nossas empresas e a sua incapacidade de lidar com a concorrência, penetrar em novos mercados e lançar novos produtos, compensando o encarecimento da mão-de-obra com o avanço tecnológico.
Essa fragilidade verifica-se, muitas vezes, devido à mentalidade dos nossos empresários, que demonstram um comportamento quase parasitário.
O empresário português tem escassa ou nenhuma preocupação institucional com a actividade que dirige, olhando para a sua empresa, única e simplesmente, como uma fonte de extracção de riqueza para si próprio. A unidade empresarial só interessa como fonte de produção de riqueza directa e não como uma unidade geradora de postos de trabalho e de bem-estar para a comunidade onde se insere.
O nosso tecido empresarial é composto, essencialmente, de pequenas e médias empresas. Por parte dos seus proprietários e dirigentes parece não haver uma satisfação pessoal na existência da empresa e no seu prolongamento ao longo de vários anos. Não existe o orgulho de possuir o estabelecimento, fazendo até que ele ganhe vida e prestígios próprios, atingindo uma personalidade própria (além da jurídica, quando isso acontece) no mercado em que se insere.
Como resultado, assiste-se a uma descapitalização constante das empresas, em favor dos seus proprietários e de quem as dirigem, não se pagam impostos e o investimento, nos anos positivos, acaba por ser raro. Conclusão, ao mínimo abanão acabam por não se aguentar, desaparecendo.
Criam-se as empresas (constituindo quase sempre uma sociedade), exploram-se os seus recursos e fecham-se quando as dificuldades apertam. Como a sociedade foi sendo descapitalizada ao longo dos anos, no processo de insolvência (resultante do seu encerramento), o seu património é quase sempre insuficiente, deixando os seus credores (Estado, trabalhadores e fornecedores) de mãos a abanar.
Com controlo quase inexistente, à mínima oportunidade, constitui-se nova sociedade, abre-se nova empresa e repete-se o procedimento anterior.

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