Vergonha
Fruto de alguns pensamentos que tudo justificam, em nome de uma suposta igualdade enganadora e falaciosa, o Ocidente tem-se deixado encurralar, chegando ao ponto de quase se envergonhar em defender os direitos que tanto tempo levaram a conquistar e a consolidar.
Atendendo a algumas reacções (Daniel Oliveira, no programa Eixo do Mal, na SIC-N, e Jorge Costa, dirigente do BE), o sério problema gerado pelas caricaturas de Maomé apenas vem mostrar que para certos sectores da extrema-esquerda todos os meios são admissíveis e defensáveis para mostrar a suas razões e dogmas.
Alguém quer pensar o que não diriam os seus líderes se fosse a igreja católica a encabeçar ou, sequer, esboçar uma reacção deste tipo (ainda que alguns já tenham tentado comparações desonestas)? Então não são eles que se dizem os mais acérrimos defensores da liberdade de expressão e religiosa? Não são eles que se gabam de ser os paladinos da luta contra todos os tipos de censura?
Em meu entender, a questão da publicação das ditas caricaturas esgota-se na liberdade de expressão e na liberdade crítica de cada um. Se é ou não uma questão de sério mau gosto e de desrespeito pelas convicções religiosas apenas diz respeito a quem as fez e publicou. Agora não se pode com isso querer julgar Estados e civilizações e exigir destes pedidos de desculpa formais ou informais.
A nossa civilização não se deve acanhar na defesa exterior de valores que dentro das suas paredes são tão vivamente defendidos e proclamados.
Sejamos claros, não podemos estar à espera que os sectores mais radicais do Islão cumpram as nossas regras. Quando lhes convém, eles são os primeiros a aproveitar-se delas (como é o caso dos sufrágios universais), mas a sua colaboração acaba exactamente onde começa a defesa dos seus ideais extremistas e totalitários.
Vir dizer-se, em nome de uma suposta igualdade, que o Irão tem direito a ter um projecto nuclear, que o Hamas tem direito a ser considerado um movimento democrático e que os seguidores mais fanáticos do Islão têm o seu direito à indignação, apenas teria cabimento se estes estivessem inseridos nas regras da comunidade internacional, reconhecendo os seus direitos, mas também os seus deveres.
Porém, o que acontece é que o Irão tem um líder que nega a existência do holocausto e que proclama a alto e bom som que um dos seus vizinhos deve ser varrido do mapa. O Hamas é uma organização terrorista que nega a existência do Estado do qual pretende receber fundos. E segundo algumas interpretações do Corão, a morte de pessoas é perfeitamente defensável, não existe liberdade religiosa, as mulheres não são vistas como seres humanos na sua plenitude e violentas restrições aos mais elementares direitos pessoais são impostas em nome de uma suposta beatificação. A juntar a tudo isto, o seu direito à indignação é quase sempre sinónimo de morte e destruição.
Apenas devemos exigir dos outros o que exigimos de nós mesmos, mas não é justo que não exijamos dos outros o que intransigentemente exigimos de nós.
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