Vigarices...
Os portugueses são, por regra, pessimistas e derrotistas, ou não fosse este o país do fado. No entanto, há um aspecto em que os portugueses se têm em muito boa conta. Achamos que a enganar não há como nós. Os outros até podem ser mais ricos, eficientes e trabalhadores, mas para contornar regras não há como os portugueses. E geralmente até se associa esta ideia a um arquétipo romântico do intrujão simpático e subtil que a todos conquista.
Mas também aqui a realidade se mostra bastante dura. Dos exemplos que conheço de burlas e corrupção, os esquemas por cá engendrados estão longe de poder ser adaptados para qualquer filme obscuro de Hollywood, fazendo de Alves dos Reis uma excepção e não a regra.
Os casos de corrupção são quase sempre exemplos flagrantes de aproveitamento puro e simples de cargos públicos, em que se tudo não é tratado directamente, no máximo, existe um intermediário. É tudo feito às claras, quase sempre com uma forte convicção de impunidade que dispensa grandes esforços para encobrir o que quer que seja. Na maioria das vezes só não são punidos por inépcia das nossas autoridades e da nossa justiça, e nunca pela sua complexidade.
As burlas também não mostram uma realidade mais sofisticada. Os burlados costumam ser pessoas de baixa instrução ou oligofrénicos, limitando-se o burlão a pedir-lhes dinheiro em troca de um negócio totalmente fantasioso, em que ninguém no seu juízo perfeito acreditaria. A vontade de se ver livre do dinheiro é tal que nunca se exigem recibos ou comprovativos do que quer que seja. A única marca de esmero é o uso da gravata, que até pode ser do avô e estar coberta de nódoas.
Portugal não é um país de bons vigaristas. Portugal é um país que tolera os vigaristas.
1 comentário:
Quase que acabavas a pedir mais dinâmica e creatividade nas burlas e a fazer um apelo à urgência de se reinventarem novos Caldeiras e Alves dos Reis!
Se calhar não é pior que seja assim como é, e deixa lá as gravatas impecáveis para os outros...
Também por aqui é tudo mais ligado à pedofilia e à chulice.
Mas eu percebi o que querias dizer. Isso não nos torna é melhores nem piores.
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