Mais uma vez a Matemática
Todos os anos se repete a mesma notícia: menos de metade dos alunos consegue ter positiva a Matemática. Perante isto, e depois de serem ouvidos testemunhos de alunos a confirmarem que a Matemática é, de facto, um "bicho de sete cabeças" surgem sempre alguns exemplos de projectos educativos de "sucesso", onde a disciplina é desmistificada e abordada sob um ponto de vista lúdico. Este ano, suponho que este pacote jornalístico vai ter um "up-grade" importante: as novas medidas que o Ministério da Educação quer pôr em prática para combater o insucesso na Matemática, nomeadamente colocando 2 professores na mesma sala para permitir um acompanhamento mais individualizado aos alunos.
A enorme taxa de insucesso a Matemática (e, em menor escala a outras disciplinas) parece ser, de facto, uma fatalidade a que o país se vai habituando embora, todos os anos, por altura da publicação das notas haja sempre alguma surpresa com os resultados, que costumam superar as expectativas mais pessimistas. E, todos os anos, um novo impulso reformista, com novas medidas inovadoras e milagrosas, pretende pôr cobro a esta situação que envergonha o país. Ora, os resultados nos exames nacionais, quer seja a Matemática ou a outras disciplinas, depende fundamentalmente de dois factores: a qualidade do ensino prestado e os próprios alunos. Em geral, considera-se que maus resultados durante anos consecutivos são um indicador de um sistema de ensino de má qualidade, pois não será correcto atribuir esse mau desempenho a alunos diferentes que, sucessivamente, vão passando pela escola. Só que, se isso é parcialmente certo, a verdade é que mudar apenas os métodos de ensino ou os programas curriculares não vai certamente mudar substancialmente os resultados nos exames. Com efeito, qualquer tentativa de melhorar o sistema de ensino que não se focalize, em primeiro lugar, nos próprios alunos, e na identificação dos aspectos psicológicos e sociais que contribuem para a sua motivação e desempenho, estará inevitavelmente condenada ao fracasso. Penso que a única forma de melhorar, a prazo, os resultados educativos é abandonar a perspectiva comportamentalista do ensino, em que o aluno é encarado como um mero objecto passivo e menorizado, intercalado entre a figura do professor e um exame, e passar a considerar o aluno como um sujeito verdadeiramente activo, central, cujo desempenho, longe de ser um processo mecanico padronizado para todos os alunos, é o resultado de um processamento cognitivo individual, dependente de factores biológicos, psicológicos e sociais.
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