11.12.06

Juízes fora do futebol

O Conselho Superior da Magistratura (CSM) proibiu os juízes de participarem nos órgãos disciplinadores do futebol, numa medida que foi apresentada como exemplar no sentido de moralizar o sector da justiça.
Quem acompanha tudo que se passa no futebol não pode deixar de, num primeiro momento, apoiar a decisão. No entanto, essa resolução apresentada só por si, sem nenhum tipo de actuação prévia, deixa no ar algumas questões.
A verdade é que a proibição do CSM surge sem que nunca nenhum juiz tivesse sido especialmente punido ou censurado por parte daquele organismo por alguma questão relacionada com a sua actuação na vida do nosso futebol.
Objectivamente, o CSM não tem qualquer razão concreta para implementar essa proibição. Aos seus olhos, os juizes eram pessoas de bem que poderiam levar a sua isenção e imparcialidade para os órgãos jurisdicionais do futebol e continuam a sê-lo, sem que a actuação disciplinar do CSM nos possa induzir a pensar o contrário. Se existe algo de mal no futebol, nada melhor que haver juízes por perto para denunciar e acabar com as situações.
Deste modo, levando em conta a tradicional mentalidade portuguesa de enterrar a cabeça na areia e toda a visibilidade que o futebol gera, somos levados a crer que a dita proibição apenas serve, em última análise, para afastar da praça pública uma série de incómodas e sonoras trapalhadas às quais apenas devem ter acesso aqueles que, diariamente, frequentam os tribunais e têm de trabalhar e reagir a alguns doutos acórdãos e sentenças.

1 comentário:

João Pedro Martins disse...

Exactamente.
Uma medida deste cariz pretende apendas afastar a hipótese de descrédito (adicional) da Magistratura por via do futebol. Ou seja, nem os próprios acreditam na possibilidade inversa - serem os juízes a levar a credibilidade consigo para os diferentes cargos a exercer.
Não me parece muito abonatório para nenhuma das partes...