13.6.06

O maná da medicina

A propósito da (débil) liberalização das farmácias, têm surgido opiniões que defendem um aumento do número de vagas nos cursos de medicina, sugerindo, para isso, a abertura de novas faculdades.
Penso que em Portugal faz falta uma mentalidade economicamente mais liberal. No entanto, existem sectores em que avançar cegamente nesse sentido pode ser perigoso. E o sector do ensino universitário é um deles.
É verdade que aí se movem interesses, por vezes totalmente escondidos, que detêm uma grande força económica. Porém, acho que abrir totalmente as portas de alguns cursos apenas serve para levar ao engano centenas ou milhares de jovens que passam anos a estudar para uma profissão que nunca terão condições de exercer. Facto ainda mais grave se pensarmos que muitos deles, quando escolhem o curso a que se candidatam, ainda estão muito longe do seu processo de amadurecimento e, portanto, sem grande capacidade ou lucidez para tomar uma decisão com tanto peso no seu futuro.
No caso da medicina, penso que se deve aguardar pelos resultados dos aumentos de vagas que têm sido feitos sucessivamente pelos governos nos últimos anos e da criação dos cursos nas Universidades do Minho e da Beira Interior. Resultados esses que só se farão sentir plenamente daqui a três ou quatro anos.
Basta vermos o que se passa com o Direito, em que o Estado autorizou a abertura de cursos em qualquer vão de escada. Ano após ano, milhares de pessoas deixam as universidades habilitadas para exercer funções sem que a sociedade delas necessite. Como resultado, temos jovens desesperados, sem outra solução que não voltar-se para outras direcções, dando praticamente como perdido o tempo que passaram nos bancos das faculdades. Tempo perdido esse que representa um desperdício de recursos, não só deles, mas também do próprio Estado.
Dir-me-ão que é isso mesmo que defende a sociedade liberal, a selecção dos melhores. No entanto, numa sociedade saudável, essa solução nunca poderá implicar tamanho desperdício.
Por último, da mesma forma que existem interesses que impedem a abertura de faculdades, também existem outros que vêem nessa mesma abertura a oportunidade para florescer, nem que seja à custa de meras ilusões.

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