4.12.04

Haja vontade!

Sou um leitor assíduo das habituais crónicas do Miguel Sousa Tavares, quer no "Público", quer em "A Bola". Admito que, mais do que concordar com as suas opiniões e pontos de vista (o que, apesar de algumas diferenças ideológicas, acontece com frequência), sou admirador do seu estilo frontal e agressivo, mesmo que por vezes seja acusado de exagerada violência ou "virulência", como ele lhe chamou esta sexta-feira.
Quero, aliás, dizer que não partilho da ideia de que é preciso ter passado por uma qualquer situação para poder fazer sobre ela qualquer juízo de valor.
No entanto, desde há uns tempos a esta parte que começo também a pensar que um homem que me parece capaz e inteligente, como ele de facto aparenta ser, devia fazer algo mais do que sentar-se do alto de uma intocável e visível tribuna e atirar em tudo e em todos, quase sem distinção. É que se nos pusermos a pensar, poucos são os artigos que ele escreve em que elogie uma medida, uma ideia proposta ou um comportamento tornado público. Além do direito inalienável e do dever cívico de criticar, alguém como Miguel Sousa Tavares devia igualmente procurar intervir de forma mais concreta e directa na vida do nosso país, pois além da reconhecida capacidade, tem meios e oportunidades para o fazer.
Vem isto a propósito da sua revelação, esta semana, de que foi convidado pelo nosso, ainda, primeiro-ministro para ser o seu nº 2 na corrida à presidência da Câmara de Lisboa. Tendo também, revelado que, como é óbvio, recusou esse convite.
Que me lembre, Miguel Sousa Tavares também recusou encabeçar o projecto que haveria de trazer o Euro2004 para Portugal, entre outros.
Independentemente das razões muito válidas que tenha tido para recusar esses convites, que as terá, certamente, o que acho importante, é realçar que muitos preferem sempre ter o papel de juízes da obra dos outros, do que fazerem-na eles mesmos. É sempre mais fácil criticar o que ficou por fazer do que lançar mãos à obra para fazermos nós. Foram muitos os que vieram a terreiro dizer que Cavaco Silva não tinha descoberto a pólvora o fim-de-semana passado, pois eles próprios já tinham dito o mesmo, muito tempo antes. A diferença é que eles sempre se limitaram a dizer isso, mesmo sobre aqueles que agora elogiam despudoradamente e sem memória, e Cavaco Silva tem a legitimidade de quem já tentou e (para muitos como é o meu caso) muito fez pelo nosso país, de quem já acreditou em projectos e neles se envolveu. E é essa legitimidade que lhe dá agora redobrada autoridade para avaliar que os que agora lá estão não querem, não conseguem e não sabem fazer aquilo para o qual estão (auto)mandatados.
Também neste aspecto, espero que este blog não se limite a lançar meras intenções...

3 comentários:

Tiago Braga da Cruz disse...

Parafraseando o meu amigo Pedro Azevedo "É sempre mais fácil criticar o que ficou por fazer do que lançar mãos à obra para fazermos nós", um Curriculum é feito de provas dadas e não de convites recusados.
Ex.mo MST solicito contribuição válida a este fórum.

Joaquim Cerejeira disse...

Apreciei muito este teu artigo. Acho que é um bom ponto de partida para uma discussão aprofundada sobre a carência de quadros qualificados na política em Portugal. Peço-te, por isso, que clarifiques melhor o sentido da última frase da tua intervenção. Depois, eu próprio tecerei alguns comentários sobre o assunto.

Pedro C. Azevedo disse...

Com a última frase apenos quero afirmar que não nos devemos limitar a utilizar o blog como espaço de discussão. Acho que podemos aproveitar para, a partir dele, criar algo mais. Tentar criar uma verdadeira consciência crítica e que procure intervir. Principalmente numa cidade tão pobre a esse nível como Braga. Daí também a minha preocupação de alargar o mais possível as contribuições.