7.12.04

O Regresso

Hoje é o dia do regresso de José Mourinho ao Estádio do Dragão. Com ele regressam Paulo Ferreira e Ricardo Carvalho, mas, dada a importância que Mourinho teve e tem (e terá, certamente) no contexto actual do futebol mundial e muito particularmente no FC Porto, o regresso do treinador é de indiscutível maior relevância.
Sou um grande admirador dos métodos de trabalho de Mourinho, a todos os níveis. Penso que é, neste momento, o líder, talvez até único, numa forma de pensar o futebol que já não se coaduna com os arcaísmos, empirismo e amadorismo com que os aspectos tácticos e de liderança eram vistos. Será difícil a um qualquer jogador que tenha sido liderado e ensinado por Mourinho ter o mesmo respeito, consideração e confiança pelo seu líder, se este for um Jaime Pacheco, um Vítor Manuel ou, por muito que me custe e até ver, um Víctor Fernandez…
Ao mesmo tempo que admiro incondicionalmente o seu trabalho como treinador, penso que como homem Mourinho deixa muito a desejar. Desde sempre, começando no Benfica, passando por Leiria e Porto e agora no Chelsea, que achei que Mourinho era mal formado, vaidoso e com um desadequado gosto pelo auto-elogio e pelo culto da sua própria personalidade. Numa altura em que podia ser magnânimo, em que poucos lhe regateiam elogios, afirmações como aquelas que proferiu ao “Expresso”, e que tem vindo a reiterar através de intenções e comportamentos, são perfeitamente escusadas e escondem a sagacidade e inteligência que mostra nos estádios, campos de treino e centros de estágio. Aliás, nunca conseguirei perceber porque não festejou connosco em Gelsenkirchen, quando todos os portistas entoavam, em delírio, o seu nome. Nunca a massa associativa do FC Porto hesitou em dispensar-lhe apoio e sentido carinho.
Por tudo isto penso que Mourinho não terá a recepção que podia ter, hoje à noite. Será aplaudido, sem dúvida. Até porque os tempos de glória no Porto, estranha e incompreensivelmente, parecem já assustadoramente distantes. Mas será um aplauso racional, pensado e devido. Não será a vénia e aclamação entusiasta de uma multidão ao seu herói, mas sim o cumprimento ao seu antigo líder de glórias sempre desejadas, mas julgadas inalcançáveis. Não terá a emoção e a paixão de um regresso de um pai, mas a razão e o calculismo do retorno, ainda que pontual, daquele que desempenhou brilhantemente o seu trabalho.
Não vou ver o jogo. Não porque não queira ver ao vivo Mourinho do outro lado ou não soubesse o que fazer no momento da sua entrada em campo. Confesso que possivelmente iria aplaudi-lo, pela incontida alegria e felicidade que me deu e pelo que me continua a dar, ao saber que pelo menos uma vez por semana posso ver uma equipa a jogar o único futebol que, agora e por sua culpa, consigo verdadeiramente admirar. Mas a verdade é que não sinto especial impulso e vontade de o fazer. E não tenho a menor dúvida que quase todo estádio irá fazê-lo. Aliás, penso que, a haver assobios relevantes, esses serão dirigidos ao banco que já, em tempos não muito distantes, foi dele…

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