14.3.05

Alguém sabe o caminho?

Para quem, como eu, tinha aqui escrito que o FCP parecia estar, nos últimos jogos, no bom caminho, sem dúvida que a derrota com o Nacional é um desastre. No entanto, mesmo para quem achava isso, está muito longe de ser imprevisível.
Na altura terminei a minha análise dizendo que o Porto tinha que enfrentar as forças adversas, sendo que as maiores seriam as que se encontravam no seu interior. E a verdade é que isso confirma-se a cada jogo que passa.
Ao contrário do Joaquim, também eu não penso que o problema seja psicológico. Trata-se, isso sim, de um problema de planeamento e qualidade. A verdade é que nenhum dos jogadores que o Porto comprou, talvez com excepção de Seitaridis, tem os seus créditos firmados no futebol europeu. Por isso começo a não compreender porque é que se elogia tanto a qualidade do plantel portista.
Jogadores como Diego, Quaresma, Luís Fabiano, Postiga (que miséria, uma sombra do que já chegou a mostrar), Cláudio, Leandro, o do Bonfim e o outro, Léo Lima, Pepe, Raúl Meireles, Areias nunca provaram que podiam render ao mais alto nível. Não digo que não podem ser bons, mas não justificam tamanha confiança. A compra de alguns deles, como Léo Lima, Leandro do Bonfim, Cláudio, Pepe e Areias, é mesmo incompreensível. Vende-se Carlos Alberto para comprar meia dúzia de jogadores que, muito provavelmente, acabarão por ser emprestados já na próxima época, arrastando-se os seus vultosos contratos durante anos a fio, sem que o clube consiga reaver o dinheiro investido (?).
Esta época entrou muito dinheiro nos cofres do Dragão. É espantoso como ninguém nunca se preocupou em saber os montantes que o clube já despendeu em comissões. O Porto parece uma placa giratória de jogadores, e ninguém duvide que muitos ganham com isso.
Um dos segredos de Mourinho sempre foi o mercado e, no seu tempo, o Porto reforçava-se sempre no campeonato português, com excepção de McCarthy. Este ano, à semelhança do que acontecia antes de Mourinho, o Porto farta-se de esbanjar dinheiro no Brasil, onde, já se sabe, os negócios conseguem ser ainda mais obscuros, pertencendo os passes dos jogadores a um número infindável de agentes e fundos de investimento. Nas compras efectuadas em Janeiro ninguém sabe quanto se gastou, e não venham com o argumento do "custo-zero", porque todos sabemos que isso não existe. A lei Bosman apenas serviu para tornar mais ricos os empresários e os jogadores, que podem agora exigir "luvas" verdadeiramente inacreditáveis.
Chegou-se mesmo ao cúmulo de Ibson (por ironia, talvez a melhor compra deste eterno defeso em que se transformou a época do FCP) ter aterrado em Portugal sem saber onde iria jogar, e ter assinado, algumas horas depois, pelo Porto, depois de ter tudo acertado com o Braga.
Infelizmente, constata-se que as últimas épocas quase se ficaram a dever inteiramente a Mourinho. Nessa altura ele planeava tudo o que se relacionava com a equipa de futebol e a SAD colhia as vantagens do seu trabalho e inteligência. No entanto, em poucos meses, passou-se de uma fase de planeamento total e detalhado a uma fase de total desgoverno e descontrolo.
Não tenho memória curta, nem gosto de ser ingrato, mas também me recuso a passar cheques em branco a quem, apesar de todo o sucesso e alegrias que já nos deu, tem teimado em mostrar que age mais por instinto do que apoiado em ideias estudadas, e compactua muitas vezes com situações pouco claras e se faz acompanhar constantemente de pessoas com currículos, no mínimo, pouco recomendáveis. Gratidão não se confunde com seguidismo e reverência acéfala.
Couceiro terá tido as suas culpas no último jogo, e também ele tem ainda muito que provar, mas está longe, muito longe, de ser o responsável por esta tragédia em que se transformou a época do campeão europeu.

1 comentário:

João Pedro Martins disse...

Parece-me que não saímos desta discussão, mas será melhor tê-la pessoalmente. Não deixando de concordar com quase tudo que escreveste, continuo a achar que o Joaquim tem razão num ponto fundamental: os jogadores têm de ser convencidos de que se podem corrigir os erros com o trabalho, para não se deixarem arrastar pelo desânimo.
Apesar das asneiras que já se fizeram esta época, não é verdade que se tenham contratado jogadores (pelo menos não na sua totalidade) sem créditos firmados. Se calhar esse até foi um dos erros. O "King" sempre soube que uma das principais armas dos jogadores é a sua ambição e sempre apostou nisso! Mas para isso é preciso conhecer bem os jogadores e agora não me parece que estes sejam realmente bem estudados - é a fartura do dinheiro - tal como não eram quando se constituíram as SAD's e havia fundos ao desbarato!
Apesar de poder ser acusado de seguidismo, também acho que os dois irmãos podem ser acusados de ingratidão. E tu, Rui Pedro, atraíste o azar com aquele artigo! Estava-se mesmo a adivinhar!
Quanto ao Couceiro, apesar de não ter responsabilidades no estado actual das coisas, tem muitas culpas na táctica à queiróz (será com 'z' ou 's'?) com que apareceu depois do intervalo.
Mas estou ansioso por começar a escrever regularmente sobre estas e outras questões aqui no Blog - está para breve.