1.3.05

Exploração do horror

Considero repugnante o uso que as televisões têm vindo a fazer dos vídeos que mostram reféns em total desespero a apelar aos governos dos seus países para cumprirem as exigências dos raptores.
Estas imagens são enviadas pelos terroristas para a comunicação social precisamente para manipular as opiniões públicas ocidentais, ao despertar nas pessoas sentimentos de comoção, impotência e revolta. A dramática situação do refém humilhado e em perigo de vida tem um efeito devastador nos espectadores pois traz à sua presença um caso concreto de alguém que precisa urgentemente de ajuda e está indefeso. É fácil, nestes casos, sobrepor a emoção à racionalidade que deve orientar as decisões dos governos.
A exibição destas imagens não pode ser, de modo algum, justificada pelo interesse jornalístico pois a mensagem que o refém transmite, sob ameaça, é totalmente desprovida de conteúdo, para além da manifestação de profundo desespero e impotência. Portanto, só o conteúdo emocional parece ter, nestes casos, relevância. Ora, considero totalmente ilegítimo, por atentar contra a dignidade do ser humano, publicitar os sentimentos de alguém que se encontra numa situação desesperada, qualquer que ela seja. Mais ilegítimo será quando são os próprios causadores do sofrimento a promover a sua divulgação e exploração.

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