Medida de pormenor
Em relação à intenção anunciada por Sócrates de permitir a venda de medicamentos não sujeitos a prescrição médica fora das farmácias, parece-me que não é, nem de perto nem de longe, uma medida necessária ou mesmo benéfica.
Em primeiro lugar, penso que tal medida é das menos importantes de toda a política do medicamento e é estranho que o Primeiro-Ministro a coloque no seu discurso de tomada de posse. De facto, não creio que um dos principais problemas em relação aos medicamentos seja a sua falta de acessibilidade. Mas, mesmo admitindo essa possibilidade nas regiões mais isoladas, então a solução mais correcta seria permitir a abertura de mais farmácias pois, em meu entender, os medicamentos, sendo produtos potencialmente perigosos, devem ser vendidos sempre que possível em locais especializados. O objectivo do Governo deveria ser o fim da cartelização do negócio das farmácias e não uma medida que não resolve o problema de fundo.
Em segundo lugar, temos que atender ao contexto social e cultural do país, incomparável ao dos EUA e ao do Reino Unido. A auto-medicação atinge, em Portugal, níveis altíssimos e mesmo com um aconselhamento médico ou farmacêutico que actualmente existe continuam a verificar-se consumos excessivos de vários fármacos perigosos. Por exemplo, a maioria da população desconhece que o Paracetamol em doses elevadas é altamente tóxico para o fígado e que, mesmo em doses terapêuticas, pode provocar lesões irreversíveis se coexistirem outras patologias hepáticas (ex.: alcoolismo).
Esta medida anunciada por Sócrates teve uma intenção claramente populista mas deixa intocável o maior problema de todos: a inaceitável restrição à abertura de novas farmácias.
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