29.3.05

De cara lavada

Esta visita de Mourinho a Israel, em ambiente de férias e descontracção, numa pretensa manobra a favor da paz no Médio Oriente (?), amplamente publicitada por todos os órgãos de comunicação social, a nível mundial, não se compadece muito com o espírito altamente profissional, quase fanático, do fantástico treinador. Convém não esquecer que Mourinho sempre se mostrou contra as viagens dos jogadores de futebol para a gravação, por vezes em tempo recorde, de spots publicitários, mesmo em dias de folga.
A viagem do treinador do Chelsea não durou uma tarde, nem sequer um dia, mas sim dois dias inteiros. Não estou a ver Mourinho a admitir isso a qualquer jogador do plantel. E penso que faz muito bem. O treinador é o líder, gozando de maior responsabilidade, mas também de maior liberdade, que os membros do grupo que lidera.
Obviamente, também nada há a apontar quanto ao interesse da viagem, nem sequer quanto aos seus objectivos (ainda que pareçam altamente irrealistas, mesmo sabendo do poder social que o futebol detém).
No entanto, penso que a viagem e a respectiva divulgação dos seus objectivos pacifistas e humanitários não será alheia aos processos disciplinares que a UEFA e a Federação Inglesa de futebol moveram contra o Chelsea, Mourinho e o seu adjunto, Steve Clark (o treinador português disse mesmo que quando acabar a sua carreira pretende enveredar pela ajuda a causas humanitárias). Não nos podemos esquecer que Mourinho se prepara para ser o rosto da American Express em todo mundo, pelo que a sua imagem deve ser devidamente cuidada e resguardada, de modo a atingir um público que se deseja universal.
Ou muito me engano, ou Mourinho terá de fazer algum contorcionismo se quiser manter o seu estilo agressivo e calculista no modo como lida com a comunicação social e adversários, e continuar a lucrar em toda linha com o sucesso de que goza, fruto do seu trabalho inigualável.
A barba até pode continuar por fazer, mas o rosto deverá estar lavado...

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