31.10.06

Caos nas Urgências dos HUC

Nos Hospitais da Universidade de Coimbra está-se a passar algo de inusitado. O Director Clínico escalou, a título compulsivo, Médicos Internos de várias especialidades (entre as quais a minha) para prestarem 12h de serviço na Urgência, na área de Medicina Geral (vulgarmente conhecida como triagem, pela natureza pouco urgente dos casos que lá são vistos), já a partir de amanhã, alegando que não existem outros profissionais para executarem esse serviço que até ao momento era assegurado por Médicos do Internato Geral sob orientação de especialistas de Medicina Interna. Assim, o Conselho de Administração dos HUC, sob proposta do Director Clínico, determinou que a escala para a urgência de Medicina Geral é prioritária relativamente às outras escalas (isto é, à escala das urgências de cada especialidade) e ao restante serviço dos Médicos Internos. Com esta medida, os Médicos Internos vêem-se obrigados a cumprir trabalho indiferenciado em detrimento do exercício tecnicamente diferenciado no âmbitos das especialidades que frequentam e a que estão vinculados pelo Regime do Internato Médico, o que, quanto a mim, é inaceitável. De facto os Médicos Internos são contratados pelo Estado para se especializarem e se diferenciarem e não devem servir como mão de obra barata para suprir necessidades do Hospital, a que estão contratualmente vinculados apenas durante o seu tempo de formação, que devem ser colmatadas com Médicos pertencentes ao quadro da instituição ou Médicos contratados externamente.
Mas, à parte desta discussão, a verdade é que a medida foi tomada tão em cima do joelho e sem um conhecimento mínimo da realidade que alguns internos foram escalados em dias em que gozam férias, já devidamente aprovadas. Por outro lado, alguns Médicos Internos já fazem mais horas de urgência de especialidade do que são obrigados por lei (12h+12h por semana). Assim, espera-se que, a partir de amanhã, aconteça o pior no Serviço de Urgência dos HUC com faltas de alguns Médicos, impossibilitados de comparecer, mobilização compulsiva de outros, que terão que permanecer no Serviço de Urgência até que alguém os venha substituir, e, acima de tudo, com a desmotivação e a revolta daqueles que, querendo exercer a sua actividade regular (consultas externas, trabalho na enfermaria, bloco operatório, reuniões clínicas e actividade científica) se vêem obrigados a abdicar da sua formação, por ordem do próprio Hospital.

1 comentário:

José Augusto Lucas disse...

HUC S.A. - necessita-se com "urgência"...