31.10.06

Despenalizar, e depois?

O aborto é uma questão que me suscita muito mais dúvidas do que certezas. Não tenho o espírito iluminado daqueles que se auto-proclamam defensores da vida, como não encontro as razões indiscutíveis daqueles que, firmemente, afirmam "aqui mando eu".
No entanto, ainda mais dificilmente compreendo um Estado que, convivendo, sem grandes problemas de consciência, com extensas listas de espera nas cirurgias dos seus hospitais e preparando-se para introduzir novas taxas moderadoras e de internamento na saúde pública, disponibiliza, sem qualquer tipo de impedimento, todos os seus meios para a mulher que queira interromper a sua gravidez, sem que a sua vida ou a do feto estejam em risco.
A favor desta posição está o velho argumento de que, se assim não fosse, estar-se-ia a prejudicar aquelas mulheres que não têm meios para abortar.
Porém, isso já acontece com muitas pessoas de todos os sexos e raças que não têm o dinheiro nem o tempo que lhes permita sobreviver à espera da cirurgia salvadora num qualquer hospital público. E, em relação a estas, nunca, em lado nenhum, se viram cartazes furiosamente empunhados, nem barrigas indignadamente pintadas.
Quer isto dizer que, concordando com a despenalização total do aborto, nunca concordarei que este seja feito indiscriminadamente à custa do Estado.

1 comentário:

Horácio L. Azevedo disse...

Eu concordo com a despenalização da IVG, mas exceptuando as situações já previstas na lei, também discordo que seja o SNS a pagar os custos.