16.10.06

Rivoli

Os manifestantes que "sitiaram" o Rivoli ilustram bem o espírito da cultura portuguesa.
Atente-se que o Rivoli não vai ser vendido nem vai ver o seu estatuto de equipamento cultural alterado, como sucedeu há uns anos com o Coliseu. Nem, em momento algum, foi dito àqueles que lá estão que nunca mais poderiam exibir as suas obras e criações naquele espaço.
A câmara municipal do Porto apenas alterou o modelo de gestão, passando-o para as mãos privadas. Mas, mesmo esse modelo de gestão e as suas implicações não estão definidos, uma vez que ainda está a decorrer o concurso público com vista à sua adjudicação.
O que apavora os "agentes culturais" que se encontram fechados no Rivoli é a simples perspectiva de ver a sua obra apreciada e avaliada por pessoas normais, sem os falsos elitismos ou aparentes erudições, habitualmente discutidos e declarados com força obrigatória geral nas recônditas reuniões de velhos amigos e conhecidos e que remetem imediatamente para a categoria de ignorantes e incultos aqueles que não conseguem vislumbrar tamanha genialidade.
É óbvio que a cultura tem especificidades que devem ser discutidas e protegidas, mas nenhuma outra actividade convive tão bem com a crónica dependência de subsídios e a falta de adesão de público, que, muitas vezes, até chega a ser vista pelos criadores como mais uma prova do seu incompreendido brilhantismo.

7 comentários:

Horácio L. Azevedo disse...

Muito bem!

PR disse...

subscrevo.

Teófilo M. disse...

Pedro, fico à espera de o ver encabeçar uma manifestação para privatizar a gestão da CMP ou de outra Câmara qualquer.

E.T.- Pode também começar pela AR se quiser.

Anónimo disse...

Acabou-se a "mama" destes senhores subsídio-dependentes! Viva!
Esses elitistas que vão trabalhar, mas trabalhar mesmo, não é só angariar "tachos".
Desde a recuperação do Rivoli, a programação era feita de/e para estes senhores e seus amigos. Tanta intelectualidade inalcansável para a maioria dos mortais... Mesmo quando ia assistir, sentia-me muito mal, tal era o "clube".
Não sei se o Rui Rio está certo, mas assim é que não podia continuar.
Disfarçam muito mal para as coberturas notíciosas a tentarem fazer de conta que os actores e os espectadores se barricaram... Que espectadores? Só os actores e os seus amigos. A porta-voz, supostamente espectadora, a meio engana-se e começa a falar em nome dos actores. Já não conseguindo disfarçar mais, deixa de fazer de conta. Assumam! Ficam mais credíveis!
E falta questionar porque é que esta manifestação se realiza depois do fim-de-semana... Primeiro fizeram a exibição da sua peça, depois foram curtir a noite e à hora em que toda a gente inicia a semana de trabalho, e como estes senhores ficam sem nada que fazer, é que se viram para as manifestações.
O seu maior castigo vai ser ninguém lhes ligar nenhuma...
E nem pensem em comparar-se à causa do Coliseu!

Anónimo disse...

Os manifestantes não passam dos tradicionais "iluminados" pela fé bloquista e pelo "progressismo" intelectual de esquerda... Eles como que pairam acima do comum dos mortais, com a sua imensa cultura, a sua visão despojada de materialismo... Enfim a demagogia do costume!

Anónimo disse...

Eles nao tem culpa que os portuguesas nao vao ver as pecas de teatro.E depois nao ha la ninguem pois nao.Ainda que seja verdade que a privatizacao nao seja um mal e gratificante saber que ha gente que nao vai no rebanho da NPDPP neo pragmatismo da direita provinciana portuguesa.

Babince disse...

Sobre estas questões, deixo o convite:
1º «Portugal Cultural: ditadura da maioria.» - http://osgajosdojardim.blogspot.com/2006_03_01_osgajosdojardim_archive.html

2º «"Cultura" privada.» - http://osgajosdojardim.blogspot.com/2006_07_01_osgajosdojardim_archive.html

3º «Rio para não "volir"! Rivolicionar por aí.» - http://osgajosdojardim.blogspot.com/2006/10/rio-para-no-volir-rivolicionar-por.html

Agradeço,
Babince