21.1.05

As repercussões da doença nos médicos (Parte I)

Um médico é um profissional que tem como missão fundamental a resolução ou o alívio do sofrimento daqueles que o procuram. Perante as muitas situações dramáticas com que se depara, o médico deve usar as suas competências técnicas de forma objectiva e eficaz, o que só consegue se assumir uma postura compreensiva e não simpática, isto é, o médico deve compreender o que o doente está a sentir mas não se deve deixar tomar por esse sentimento.Esta atitude nem sempre é fácil de pôr em prática uma vez que ao confrontar-se com os problemas dos seus doentes, o médico confronta-se com situações que ele próprio ou alguém muito próximo dele já viveu, o que lhe traz más recordações e sentimentos já há muito esquecidos. Para evitar esse desconforto, que é fonte de ansiedade e que pode afectar a sua capacidade decisória, o médico usa mecanismos de defesa inconscientes que lhe permitem abordar as situações mais problemáticas. Um desses mecanismos é passar a olhar para a doença e não para o doente, isto é, o médico foca exclusivamente a sua atenção numa série de sinais e de sintomas que no seu conjunto constituem uma entidade. Deste modo, elimina a componente emocional que lhe é incómoda e passa a trabalhar sobre dados impessoais e mais concretos (análises, exames imagiológicos). Este mecanismo pode ser uma das causas principais do descontentamento dos doentes pois muitas vezes a entidade que o médico definiu como "doença" não coincide com a do doente.

Sem comentários: