18.1.06

Uma história

Um construtor civil anda contente da vida, porque viu aprovado o seu projecto de construção de um bloco de apartamentos de cinco andares num terreno pertencente a uma antiga quinta e que se situa nas imediações da mais importante grande superfície comercial da cidade. O caso dele, apesar de tudo, não era dos mais impressionantes, perto dos mais de trezentos apartamentos previstos para aquela zona.
Num belo dia, comunicam-lhe que o senhor presidente da câmara deseja dar-lhe uma palavrinha. Sempre disponível a colaborar com as forças vivas da terra, o dito construtor apressa-se a dirigir-se ao edifício da Câmara Municipal para falar com o senhor presidente, homem experimentado, de muitas batalhas.
Lá chegado, fica surpreendido com a amabilidade e reverência do senhor presidente, muito solícito e atencioso. Logo com ele, que apenas o cumprimentava, não indo as suas relações muito para além do “bom dia”, “boa tarde”.
No decorrer da agradável conversa, o senhor presidente apela-lhe à qualidade de genuíno homem da terra e de apoiante do clube local, que, mais do que nunca, precisava de ajuda para sobreviver a mais uma época de “roubos de igreja” e fustigada pelas lesões. Para conseguir esses intentos, apenas era preciso que o dito construtor aceitasse alterar o seu projecto de construção, colocando mais quatro andares no seu prédio. Nada que o prejudicasse, portanto, bem pelo contrário, só ficaria a ganhar. Em troca, deixava como generosa contribuição uma quantia perto dos dez mil contos.
E assim foi. Resultado, o prédio de nove andares foi construído, os lucros do construtor civil quase duplicaram, o clube da terra sobrevive, cada vez melhor, e os seus dirigentes gabam-se de fumar os melhores charutos que Fidel produz. O senhor presidente, esse, continua a ir ao futebol.
Entretanto, os dois parques recreativos e a escola primária previstos para a zona foram cancelados. Em troca, em vez dos trezentos fogos previstos, construíram-se mais de setecentos. A antiga quinta está transformada num belo conjunto de vielas, repleta de blocos de cimento, onde a criminalidade grassa, os carros se empurram para circular e os peões emagrecem para poder passar.

Isto é uma história de ficção. Qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência.

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