9.2.05

Fugir da reclusão

A escolha da especialidade é um momento especialmente perturbador na vida dos jovens médicos. Quem passou por essa experiência sabe bem que a maioria dos candidatos atravessa momentos angustiantes quando pensa na hipótese de não ter outras opções para além da Medicina Interna, Cirurgia Geral ou da Clínica Geral. Se em relação á Clínica Geral podemos encontrar uma explicação na degradação do estatuto social e profissional desta especialidade nos últimos anos (e que agora, lentamente, começa a recuperar), já o caso da Cirurgia Geral e da Medicina Interna parece não ter uma explicação tão fácil pois são áreas de prestígio e com forte reconhecimento público.
Esta autêntica fobia, aparentemente incompreensível para quem não trabalha na área da saúde, justifica-se pelo tipo de vida proporcionada aos médicos destas especialidades hospitalares. Efectivamente, tanto a Medicina Interna como a Cirurgia Geral exigem uma disponibilidade total, tendo o Interno que abdicar da sua vida privada e mesmo familiar para cumprir um horário absolutamente esmagador que inclui dias e noites consecutivas de trabalho extremamente exigente e desgastante. A sobrecarga de trabalho não é, de modo nenhum, uma opção, pois a falta de disponibilidade de um Interno para efectuar horas extraordinárias no Serviço de Urgência reflecte-se, de forma notória, na sua nota final. Compreende-se, assim, que os Serviços de Medicina e de Cirurgia tenham, de um modo geral, ambientes tensos e conflituosos entre os profissionais.
Esta breve descrição, que poderia completar-se com inúmeras histórias revoltantes, algumas delas roçando a escravatura, permite perceber por que são estas especialidades rejeitadas pelos candidatos como primeira opção (salvo honrosas excepções), apesar de serem áreas consensualmente muito interessantes.

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