22.2.05

Santana Lopes: inocente ou culpado?

A determinação do grau de responsabilidade de Santana Lopes na derrota eleitoral do PSD é uma questão que tem dividido profundamente os eleitores do partido. Quanto aos apoiantes dos outros partidos, a sua opinião parece consensual quanto à desastrosa prestação do ainda Primeiro-Ministro e à justiça do resultado obtido. Resta saber se não diriam o mesmo de qualquer outro que tivesse sucedido a Durão Barroso...
É no interior do PSD que as divergências se tornam evidentes e se apresentam como uma confrontação assumida entre dois polos opostos: os que consideram Santana Lopes como grande responsável pela calamidade eleitoral, devido à sua incapacidade para liderar o Governo e aos episódios tristes que se sucederam; e os que consideram Santana Lopes vítima de múltiplas adversidades, incluindo críticas cerradas de figuras do próprio partido, que o deixaram isolado ao comando de um barco que não era o seu e que já se estava a afundar com Durão Barroso (nas eleições europeias).
Numa situação de normalidade era, de facto, impensável e inadmissível que personalidades como Cavaco Silva, Manuela Ferreira Leite, Pacheco Pereira e tantos outros não se associassem de forma empenhada ao combate político, em defesa dos interesses do partido, unindo-se em torno do líder. A sua não disponibilidade seria encarada certamente com estranheza pela grande maioria dos apoiantes do partido. Nos últimos meses, pelo contrário, assistiu-se dentro do partido a uma adesão significativa à posição destas figuras, e a um repúdio de Santana Lopes. Esta falta de coesão partidária, que seria facilmente classificada como traição numa análise superficial, compreende-se plenamente pelo tipo de relação que Santana Lopes desde sempre estabeleceu com o partido. De facto, desde os tempos de Cavaco Silva, Santana Lopes tem desempenhado o papel de animador e desestabilizador do partido, marcando constantemente a sua posição com o anúncio de intenções ameaçadoras para os líderes em exercício, e modulando a sua estratégia consoante as oportunidades de ascenção. A sua disponibilidade para combates eleitorais, muitas vezes por ele referida, nunca teve como objectivo colocar-se ao serviço do partido mas sim disputar, por esse meio, um espaço de sobrevivência no interior do PSD. De cargo em cargo, sem qualquer fio condutor coerente, foi construindo a sua carreira política à margem dos líderes. Como podia querer o Dr. Santana Lopes ter o apoio do partido se ele próprio sempre viveu em confronto com os seus dirigentes?

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