16.2.05

Os cinco e o debate

Concordo, na generalidade, com o que vem sendo dito acerca do debate de ontem, mas devo confessar que, em certos momentos, foi melhor do que aquele modelo ajuda a ser.
Os vencedores foram, a meu ver, Portas e Louçã. Não só porque, neste tipo de debates a cinco, são os partidos fora do arco do poder que saem beneficiados (apesar desta curta experiência de três anos do PP), mas porque aqueles dois líderes conseguem ser, de facto, mais acutilantes e objectivos, aparentando um maior domínio dos dossiers (especialmente Louçã). Mas, também, sempre plenos de demagogia.
De notar que, ao contrário do que tinha pedido ontem, Jerónimo de Sousa nem mesmo com a sua presença física nos conseguiu brindar, derivado do seu estado de saúde, facto que se lamenta e o desculpa, obviamente. Apesar de não chegar ao ponto, como disseram alguns, de dizer que pode ter ganho votos com isso, o que acho é que o pode ter beneficiado, em virtude de, involuntariamente, não ter debitado a sua habitual cassete e de ter escapado à constatação geral de que é muito melhor no contacto de rua, do que a discutir políticas e dossiers.
Santana, o único presente em luto nacional, esteve ao nível do que nos habituou como Primeiro-Ministro, ou seja, longe, muito longe de brilhar. Não percebi porque é que tendo começado por justificar, bem em minha opinião, o benefício fiscal concedido ao Totta no caso apresentado por Louçã, abandonou essa justificação.
Todavia, há um facto que muitos têm evitado, mas que foi gritante. Sócrates não consegue demonstrar, em momento algum, qualquer que seja a situação, carácter e carisma para ser o Primeiro-Ministro que o país precisa. É inseguro, parece medroso e está sempre com um ar pesaroso, comprometido e antipático, mesmo. A sua imagem não passa e o seu discurso, demasiado engasgado, não convence, muito menos galvaniza.
As suas propostas sobre os temas que eram postos em cima da mesa andavam sempre em volta da "maior eficiência", "união de esforços", "transparência". Tudo muito abstracto e desprovido de qualquer conteúdo. Tanto invoca as figuras guterristas durante a campanha, como descarta esse período do seu percurso político.
Pôde, ainda, verificar-se que o BE não está interessado em fazer parte de um eventual governo, pois pretende continuar como partido de protesto, podendo assim gozar de alguma impunidade e da simpatia de alguns grupos e de alguma comunicação social (que tem sido vital no seu crescimento). Mas este debate em nada ajudou, muito pelo contrário, o PS no seu desejo de maioria absoluta.

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